É hora de quebrar o pacto narcísico racial brasileiro

Por Fabrício Silva, para Coletiva.net, em especial Diversidade e Comunicação

Fabrício Silva - Arquivo Pessoal

O desequilíbrio de profissionais pretos e pardos dentro do mercado publicitário é perceptível em boa parte do mundo e esta realidade não é diferente no Brasil, muito pelo contrário. Ela se acentua ainda mais por aqui, principalmente, pelo que podemos chamar de pacto narcísico racial, realizado pela branquitude brasileira e que acaba impactando todas as bases importantes e estruturais da sociedade. Esse pacto funciona a partir de um sistema de hierarquização de acessos e oportunidades, em diferentes espaços, baseado na cor da pele e nos méritos individuais, desconsiderando todos os acontecimentos históricos, sociais e culturais que possam afetar o coletivo e o indivíduo.

Mas, pensa comigo: num país com histórico escravocrata igual ao Brasil, será que é possível que as oportunidades cheguem de forma igualitária para todas as pessoas? E mais do que isso, será que é certo que as oportunidades sejam iguais? Pra mim, homem preto, periférico e batuqueiro, não faz sentido algum que após anos de exclusão as coisas passem a funcionar de maneira igual hoje. Imagina para mulher preta, para mina trans, pro mano gay ou para todas as outras interseccionalidades que existem? Não tem como, né? A regra vai seguir a mesma: quem está na frente vai continuar na frente.

E é com base nessa visão que entendo que cada vez mais o debate deve estar pautado no conceito de Equidade. Nunca ouviu falar? Equidade é o fundamento de igualdade aliado ao senso de justiça social, ou seja, dar às pessoas o que elas precisam, de modo que, todos tenham as mesmas oportunidades. Quem precisa de mais ganha mais, de maneira adequada e condizente com suas necessidades e circunstâncias sociais. E aí, não te parece mais justo? 

Agora voltando para o debate racial na publicidade, queria te convidar pra mais uma reflexão: como o racismo aparece nos processos seletivos e o que as agências podem fazer para promover maiores oportunidades pra galera preta? Díficil a pergunta, né?! 

Acredito que o primeiro passo é desenvolver metas e planos de investimento para promover a diversidade no ambiente corporativo, buscando identificar lacunas que permitam a entrada e permanência de colaboradores integrantes de grupos minoritários. Depois é urgente que o processo de recrutamento e seleção seja reformulado sob a ótica da diversidade, equidade e inclusão. No fim das contas, os requisitos foram criados sem a intencionalidade da diversidade, não é mesmo?

O caminho da transformação é longo, e para que as coisas aconteçam numa velocidade maior os setores de RH precisam tomar consciência dos próprios vieses inconscientes e buscar iniciativas para quebrá-los. Assim como as vagas precisam ser consideradas a partir de uma perspectiva interseccional de raça, gênero e classe, e o conhecimento sobre questões raciais e as consequências que o período escravocrata gerou para as pessoas negras precisam estar no centro do debate. 

Vamos construir isso juntos? Eu sei que é difícil, mas é extremamente importante que ações anti racistas façam parte do mundo corporativo publicitário. Aqui na Eyxo, junto com o time de People e o GT Racial, estamos colocando algumas iniciativas em práticas já. 

 

Fabrício Silva é curador de talentos da Eyxo em Estratégias de Inovação.

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