Eu sou gay, junho está aí e esse é um texto sobre Comunicação

Por Luan Pires, para Coletiva.net

Quer saber o que tudo isso tem a ver?

Junho está aí. A diversidade volta a ser destaque na pauta da Comunicação como um todo, afinal, temos um mês dedicado ao orgulho LGBTQIA+. E isso é ótimo. Hoje, no Brasil, buscamos duas vezes mais sobre termos ligados à diversidade do que em 2012, o que indica que a agenda está chegando em mais gente. Claro que diversidade não se resume a pauta LGBTQIA+ porque é um termo amplo como um espectro de diferentes nuances. 

Quando eu era criança, e aqui vou falar da minha experiência pessoal, cresci com a televisão estampando personas gays caricatas ou resumidas em figuras de humor. Não via um relacionamento gay sendo instituído. Eu acreditava que ser gay seria minha sentença de solidão ou ditada por aquelas representações que não conversavam com minha necessidade. Era outra época, mas ainda assim, muitas crianças como eu não vão ter de volta uma construção natural da sua identidade porque cresceram não vendo isso. O que não se vê, não existe (pelo menos quando falamos em representação na Comunicação). A representatividade, turma, não é uma questão de justiça e equidade, somente. É de saúde mental. A comunicação não pode fugir dessa responsabilidade. 

E, não nego, movimentos começaram a ser feitos. Mas, temos muito ainda a evoluir e mais do que isso, internalizar. Existe um termo na escrita criativa chamado de "tokenismo". De forma resumida, fala de quando "uma mídia escrita incorpora um número mínimo de membros de grupos minoritários para gerar uma sensação de igualdade ou diversidade". Pensa aí: em livros, filmes e séries, por exemplo. Isso acontece, geralmente, quando existe apenas um personagem não-branco em meio a um grupo que é. Também quando aquela única mulher está no meio de um elenco formado inteiramente por homens. Isso não é diversidade, cara Susan (conheçam o meme aqui).

A verdade é que o mês do orgulho LGBTQIA+ vem flertando há algum tempo com esse tokenismo. Marcas que não tem uma política interna para grupos minoritários (algumas até possuem pequenas ações isoladas) comunicam durante o mês esses atos à exaustão. Se você tem uma cultura de inclusão que está somente no papel, não são stickers coloridos que vão tangibilizá-la, sinto dizer, muito menos o influenciador que você não chamou durante o ano inteiro e agora quer que ele trabalhe de graça em troca de visibilidade: para citar três exemplos que me vêm na cabeça, tem esse desabafo do Marcio Rolin no Linkedin (clica aqui) e esse vídeo do @essemenino (clica aqui) ou até a fabulosa Dri Maria (@blogueiratrans), que faz um trabalho incrível falando de assuntos variados e até já falou sobre isso.

O ponto é: nunca conseguiremos um mercado que fuja do simbolismo barato ao falar da causa LGBTQIA+ se pessoas dessas minorias não estiverem presentes em locais estratégicos em empresas como um todo, inclusive as de Comunicação. E mérito elas têm. Diversidade é cultura que se propaga. Uma pesquisa inédita realizada pela ONU mostra que a maior parte das empresas no Brasil (87%) pensa em ampliar a diversidade, no entanto, apenas 60% desenvolvem programas de inclusão. Além disso, às vezes, os ambientes hostis ainda fazem com que as instituições percam talentos diversos, porque é um ambiente sem segurança psicológica e de desvalorização. Pessoas LGBTQUIA+ precisam pensar não só campanhas/ações para junho, elas precisam estar presentes na comunicação de marcas, veículos e canais durante o ano todo dando a sua visão de mundo.

Desse jeito, fugimos do oportunismo e damos voz a quem vê o mundo de uma maneira única. Afinal, suas vivências não podem ser representadas ou resumidas a um mês, a um dia, a uma linha de roupas com arco-íris (eu, particularmente, adoro, mas vocês são grandinhos pra entender a problemática). Acho que esse é o próximo passo: deixar que minorias falem em espaços amplos. Parece simples, mas exige esforço, investimento e vontade.

Todos têm a ganhar: outros Luans pequenos, ansiosos, com medo da vida, que vão ver pessoas com vivências semelhantes, ocupando espaços e sendo seus Eus verdadeiros por meio de suas expressões, opiniões, arte e escrita. E o mercado que começa a se aprofundar sobre o que de fato é equidade, oportunidade e ambientes inclusivos. Aí sim, comuniquem com força isso pra gerar mais casos. 

Quem sabe assim todos aprendemos aquilo que quando crianças apenas não vimos.

Luan Pires é jornalista e executivo de Planejamento Estratégico e Comportamento.

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