Internet é onde eu encontrei a diversidade que me inspirou na Comunicação

Por Lou Cardoso, para Coletiva.net

Lou Cardoso - Arquivo Pessoal

Há quem diga que a internet é terra de ninguém. Eu defendo que é ao contrário. Hoje, consigo mensurar a importância que o universo on-line teve para desconstruir padrões e me mostrar que eu poderia ter minha voz ouvida. Parece papo de lacração, mas são pequenas observações que me fazem questionar se, por exemplo, não houvesse a liberdade de criar um simples blog para publicar as minhas resenhas de filmes, precisaria disputar espaços com tradicionais colunas de cinema em um jornal impresso em que disputaria em desvantagem com algum crítico mais velho do sexo masculino. 

Eu cresci rodeada de referências masculinas no âmbito da crítica de Cinema. Sempre coloquei o jornalista e crítico Rubens Ewald Filho (1945-2019) como uma inspiração para seguir. Não que isso seja um problema, até porque eu adorava a humildade e a simplicidade dele, mas por que eu não busquei uma mulher como referência? Pois acredite que só fui tomar conhecimento de outras críticas de cinema do sexo feminino de 2015 para cá graças a internet. E não falo apenas de nomes popularmente já conhecidos como Isabela Boscov - colunista da Veja que ganhou os holofotes com algumas pérolas vindas do seu canal no YouTube - e Barbara Demerov - que a conheci na época que escrevia para o portal AdoroCinema e hoje atua como repórter e colunista da Veja São Paulo - mas também de outras mulheres que fazem as suas próprias teses de modo independente nos inúmeros canais de comunicação que a internet oferece. 

Mas o que isso tem a ver com a frase que abro o texto? É justamente por acreditar que a internet seja um ambiente em que todos têm a chance de criar uma plataforma própria para fazer do seu jeito, em especial as minorias que raramente se viam nestes lugares tradicionais se não fosse pelo ponto de vista de alguém que não vive a sua realidade. Trouxe um exemplo pessoal a respeito da área que gosto e atuo, que é a crítica de cinema, por ter demorado a entender a questão de gênero e a importância que foi para mim finalmente ter encontrado outras mulheres fazendo o mesmo que eu e tendo a mesma paixão pela sétima arte. Além de ter mais referências femininas, agora também conto com uma rede de apoio. Afinal, ser mulher em qualquer lugar, especialmente na internet, não é fácil, mas pode ser divertido se estiver em boas companhias. 

Isso é apenas um recorte pessoal por ser mulher que produz conteúdo sobre cinema na internet já por quase dez anos. Agora, imagina a diferença que faz para pessoas negras, LGBTQIA+, indígenas, pessoas com deficiência (PCDs), homens e mulheres plus size, entre outras minorias, que graças ao meio digital puderam criar as suas próprias plataformas para falarem sobre assuntos variados e que gostam. Até mesmo apenas seguir essas pessoas com quem se identificam e admiram nas suas respectivas áreas. 

Pode parecer bobagem para quem não sente falta de representatividade nas mídias, mas simplesmente rolar o feed e encontrar diariamente outros corpos, outras cores e outras vozes traz um aconchego dentro do peito de pensar, nem que seja por breves minutos, que existem pessoas como eu por aí, ou melhor ainda, existe uma variedade de pessoas neste mundo que também querem ter o seu espaço, a sua validação e, por que não, os seus seguidores para que possam estar todos juntos, compartilhando e aprendendo constantemente sobre suas realidades. Seja com um artigo, uma resenha ou uma dancinha no Tik Tok. O que importa é que seja prazeroso e respeitoso entre todos. 

Talvez, esse seja o maior triunfo que a internet poderia nos proporcionar: não somente aproximar as pessoas, mas dar palco para quem realmente precisa falar e ser escutado.

 

Lou Cardoso é jornalista, social media, crítica de Cinema e dona do blog de @cinelooou.

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