Jornalismo X Futurismo

Por Gabriella Bordasch, para Coletiva.net e Brivia Group, diretamente do SXSW

Começou nesta sexta-feira o maior festival de previsão de futuro do mundo. Isso porque o South By Southwest, que acontece todo ano, desde 1987, em Austin no Texas, já é conhecido como o evento que traz as cabeças mais importantes e inovadoras, que mudam e influenciam o mundo em diversos segmentos. Os futuristas estão em peso por aqui. 

Esse é meu segundo ano cobrindo o festival que tem milhares de palestras, ativações de marcas, workshops, shows e muito mais. Muitas empresas e artistas foram apresentados por aqui e explodiram meses depois. Uma semana por aqui já é o suficiente pra sairmos com a cabeça explodindo de informação e novas ideias. Essa é a minha expectativa pra esse ano também. O SXSW pauta muito do que vai ser tendência nos nossos negócios. Há alguns anos o Brasil é conhecido por trazer o maior número de credenciados. Em 2023 nossa delegação tem cerca de 2 mil inscritos.

Eu como jornalista, curiosa, que ama novas tendências e ouvir previsões escolhi como primeira parada um debate sobre jornalismo e futurismo: Why Journalists and Futurists need to talk (Por quê jornalistas e futuristas precisam conversar). Foi uma troca divertida e muito bem alinhada entre a dupla de palestrantes. Stuart Candy, futurista da Carnegie Mellon University e Matt Thompson, editor do The New York Times, apresentaram slides feitos  em conjunto. Já no início eles provocaram: "quantos de vocês acham que essa conversa entre o jornalismo e o futurismo já deveria estar acontecendo? E quantos de vocês são céticos, acreditam que o jornalismo não deveria se envolver em nenhuma especulação, o jornalismo deveria ser sobre o que aconteceu e o que podemos documentar e verificar? ''

Confesso que tinha levantado a mão já na primeira pergunta, mas depois da segunda fiquei na dúvida. É uma conversa interessante. Até porque sabemos que o jornalismo lida com um fluxo constante de previsões e muitas vezes extrapolando a partir de eventos atuais, dando peso a especialistas com pouca responsabilidade e também sem muita tentativa de entender toda a gama de possibilidades. Mas seria possível um jornalista prever o que de fato pode acontecer? 

Thompson deu um exemplo que pode soar familiar para quem cobre estiagem no Rio Grande do Sul. Ao mostrar um gráfico sobre o sobe e desce da água no Lago Mead, maior reservatório de água dos Estados Unidos vemos uma leve queda de 2000 a 2003. Mas há 20 anos será que alguém fez alguma análise apurada de que nos anos seguintes o lago continua secando até chegar a uma situação catastrófica?: ''Chega a bater um arrependimento'', desabafou o editor do New York Times. Quem olha o gráfico no presente momento e apenas reporta a situação do reservatório está fazendo algo de útil? O Lago Mead (que eu nunca tinha sequer ouvido falar), abastece 25 milhões de pessoas em três estados americanos e também uma parte do México. ''Nós cobrimos o futuro o tempo inteiro, mas estamos fazendo isso muito mal'', disse o jornalista. 

Para o futurista e professor Stuart Candy, não há como sermos taxativos 100% do tempo em algo que pode acontecer,  mas existem formas de melhorar nosso faro. Temos de trabalhar com ''imagens do futuro'' enquanto nos alimentamos dos dados. Segundo Candy existem três dimensões de previsão: Diferença, diversidade e profundidade. De acordo com o especialista devemos abordar não apenas a diferença de um único cenário (por mais provável que pareça atualmente), embora isso seja o máximo que muitas pessoas vão. Precisamos também de uma diversidade de futuros alternativos, constantemente atualizados. E profundidade, considerando o que isso implica como experiências vividas. Faça as perguntas: Como o mundo está mudando e aonde isso pode levar? Quais são as diferentes maneiras pelas quais um sistema imprevisível pode evoluir? O que significaria e como seria a sensação de estar em determinadas circunstâncias futuras? Ele avisa que não é tarefa fácil, mas também é disso que se trata mais de meio século de prática e educação de futuros/previsões.


Com o apoio da Brivia Group, Coletiva.net cobre pela quinta vez o South by Southwest (SXSW). Neste ano, o evento volta a ser realizado totalmente de forma presencial em Austin, no Texas (Estados Unidos). De 10 a 14 de março a jornalista Gabriella Bordasch escreve para o portal sobre as principais atrações e bastidores do festival, além de abastecer as redes sociais com conteúdos exclusivos, bem como gravar drops de notícias do evento para a Coletiva.rádio.

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