Lições do Japão e da China para além da missão oficial

De Juliano Rodrigues, para o Coletiva.net

Uma missão governamental não se resume apenas aos compromissos formais. É também uma oportunidade para observar, aprender e refletir. Participar da viagem oficial liderada pelo governador Eduardo Leite ao Japão e à China, em novembro, foi uma dessas experiências que mostram como a comunicação está no centro de tudo - seja para moldar relações, projetar uma imagem ou construir pontes entre culturas.

Realizada ao longo de dez dias, a missão contou com dezenas de compromissos e uma  agenda intensa, incluindo reuniões com empresas globais, visitas a projetos de resiliência climática e encontros com autoridades locais. Para quem trabalha na comunicação política, foi um terreno rico para observar não apenas o conteúdo, mas também a forma. Os discursos, apresentações visuais e cerimônias revelaram muito sobre as prioridades, os valores e as estratégias de cada país.

No Japão, a precisão é marcante. Durante os compromissos da missão, ficou claro que o foco dos japoneses está no conteúdo. Apresentações institucionais e empresariais são diretas e minuciosamente estruturadas, sem espaço para excessos. É como se cada elemento fosse pensado para evitar mal-entendidos e reforçar a clareza. Isso se reflete até nos materiais visuais: simples, informativos e sempre alinhados ao objetivo principal.

O uso de símbolos também é notável. Nas cerimônias mais formais, gestos, objetos e palavras carregam um peso significativo. Nada é aleatório; tudo tem um propósito. Essa abordagem transmite uma mensagem de estabilidade, confiança e respeito às tradições, características que também se refletem na maneira como o país se posiciona no cenário global.

É uma lição para quem trabalha com estratégias de imagem: a mensagem precisa ser clara e fiel à identidade de quem a emite. No caso do Japão, a confiança é construída pela precisão, pela transparência e pela capacidade de transmitir segurança em cada detalhe.

Já na China, a comunicação ganha contornos de espetáculo. Cerimônias grandiosas, cenários monumentais e uma narrativa visual marcante são usados para projetar poder e progresso. Telões gigantes e de altíssima definição exibem vídeos que destacam conquistas, tecnologias avançadas e um futuro promissor, frequentemente alinhados ao discurso oficial do governo.

Há um esforço claro para combinar tradição e futurismo. Essa fusão aparece em todos os momentos: da abertura de eventos à condução das reuniões. A mensagem é direta: a China quer ser vista como uma potência indispensável no cenário global, que respeita suas raízes, mas lidera o futuro.

Para quem está acostumado com um modelo mais minimalista de comunicar, como o ocidental, essa abordagem pode parecer exagerada. Mas é inegável a força da mensagem e a coerência na estratégia. Não se trata apenas de impressionar, mas de afirmar liderança e consolidar uma narrativa de grandeza.

Mesmo que breve, a vivência dos diferentes estilos de apresentação do Japão e da China reforça a ideia de que a comunicação - em suas múltiplas formas - está no centro de tudo. Não importa se ela é transmitida por meio de gestos precisos ou de imagens grandiosas. Em ambos os casos, a construção de relações, o compartilhamento de valores e a busca por alcançar objetivos estratégicos são prioridades.

Essa missão foi a quinta que tive o privilégio de acompanhar ao lado do governador Eduardo Leite. Cada uma trouxe aprendizados únicos, mas esta foi especialmente transformadora. Estar nesses dois países, vivenciando culturas tão distintas, nos mostrou como as estratégias de comunicação vão além de palavras ou imagens. Elas são parte essencial de como nos posicionamos no mundo.

Para o Rio Grande do Sul, estar presente nesses cenários, em diálogo com líderes políticos e empresariais, aprendendo com culturas distintas e mostrando nossas potencialidades, é um passo importante na construção de um futuro mais conectado e inovador. Afinal, comunicar não é apenas o que dizemos. É como dizemos. E, mais importante, é como somos percebidos.

Juliano Rodrigues é mestre em Comunicação Social e coordenador da Assessoria de Imprensa do governador Eduardo Leite

Comments