MuseCom: 46 anos em prol da Memória da Comunicação
Por Carlos Roberto Saraiva da Costa Leite, para Coletiva
Ao longo de seus 46 anos, o Museu da Comunicação Hipólito José da Costa, criado no dia 10 de setembro de 1974, em Porto Alegre, busca cumprir, em nosso Estado, o seu papel de guardião da memória da Comunicação.
De acordo com o seu estatuto, a missão da instituição é guardar, preservar, pesquisar e difundir esta história. Representada por um valioso acervo, cujo recorte temporal contempla desde o século 19 até aos dias atuais, este se apresenta na forma de diferentes tipologias ligadas à área da Comunicação, como imprensa, publicidade, fotografia, cinema, rádio, televisão, vídeo.
Ao comemorarmos o seu 46º aniversário, é importante que nos reportemos à história da instituição, cuja criação, em pleno "anos de chumbo", tornou-se possível graças ao apoio incondicional da Associação Rio-Grandense de Imprensa (ARI), sob a direção, na época, do grande jornalista Alberto André (1915-2001), de seu idealizador o jornalista Sérgio Roberto Dillenburg, do Secretário de Educação e Cultura Mauro da Costa Rodrigues e do então governador do Rio Grande do Sul Euclides Triches (1919-1994).
A produção cultural, na forma de monografias, dissertações, teses e livros, desenvolvida na instituição é de um valor incomensurável. Graças ao empenho de disponibilizar o seu valioso acervo - um dos maiores da América Latina - ao público pesquisador oriundo das mais diversas universidades do Rio Grande do Sul, de outros estados do Brasil e até do exterior, o MuseCom tem recebido o reconhecimento acadêmico e da nossa comunidade cultural, ainda que enfrente alguns problemas estruturais, assim como outras instituições, no Brasil, também sofrem, em seu cotidiano, muitas agruras laborais, que geram preocupações constantes em relação aos seus acervos e espaços expositivos.
Um prédio ligado à história do jornalismo gaúcho
O prédio - onde hoje se encontra instalado o MuseCom -, foi inaugurado em 6 de setembro de 1922, durante as comemorações do "Centenário da Independência do Brasil," (1822-1922), para sediar o jornal A Federação (1884-1937), Órgão Oficial do Partido Republicano Rio-Grandense (PRR). Considerado de estilo eclético, característica do período positivista, possui fachada em estilo greco-romano. Sua história faz parte da memória política e jornalística do Rio Grande do Sul, pois ali foram impressos, além de A Federação, o Jornal do Estado (1938-1942) e, durante décadas, o conhecido Diário Oficial do Estado. Este fato corroborou para que o local se tornasse, em 1974, a sede do Museu da Comunicação Hipólito José da Costa.
O jornalista e historiador Carlos Reverbel (1912-1997), em seu livro Luiz Rossetti / O Editor Sem Rosto e Outros aspectos da Imprensa no RS (1996), na página 70, registrou: "A função do Museu Hipólito José da Costa, de fundação relativamente recente, será impedir que se continue a praticar, no estado, o crime do jornalicídio..."
A Federação (1884 - 1937)
No antigo prédio do jornal A Federação - atual sede do MuseCom - circularam importantes personalidades do Partido Republicano Rio-Grandense (PRR) sob a batuta do presidente do Estado Antônio Augusto Borges de Medeiros (1863-1961). Sua construção ficou sob a responsabilidade do engenheiro civil Teófilo Borges de Barros, da tradicional Escola de Engenharia de Porto Alegre, de acordo com o registro do arquiteto Fernando Corona (1895-1979), na Enciclopédia Rio-Grandense (1957), organizada por Klaus Becker.
A escultura alusiva à imprensa, ao alto do prédio, é da autoria do artista italiano Luiz Sanguin (1877-1948). Restaurada, em 1995, pelo escultor João Carlos Ferreira, da equipe da Brigada Militar, contou com o apoio e supervisão do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado (IPHAE). O prédio, desde 1977, é Patrimônio Histórico do Estado, após ter sido tombado.
Fundado durante as comemorações do bicentenário (1774-1974) de nascimento de Hipólito José da Costa (1774 - 1823), o MuseCom presta a sua homenagem ao patrono da imprensa no Brasil, que publicou, em seu exílio na Inglaterra, devido à Censura Régia, o Correio Braziliense (1808-1822), nosso primeiro jornal. Neste mensário, Hipólito José da Costa (1774-1823) defendeu a liberdade de pensamento, criticou o poder despótico e a administração corrupta presente no Brasil Colônia e em Portugal.
Neste ano de 2020, o Museu da Comunicação Hipólito José da Costa, situado na Rua dos Andradas, nº 959, em pleno centro histórico da Capital e dirigido, atualmente, pelo museólogo Welington Silva, completou, com muito orgulho, seus 46 anos de serviços prestados à comunidade cultural do Rio Grande do Sul.
Parabéns MuseCom!!
Carlos Roberto Saraiva da Costa leite é pesquisador e responsável pelo Núcleo de Pesquisa do MuseCom.