Não chame de minoria os que são minorizados

Por Patrícia Carneiro, para Coletiva.net em especial Diversidade e Comunicação

Patrícia Carneiro - Arquivo Pessoal

Para muitos e muitas que venham a ler este texto, podem iniciar se perguntando: "quem é Luana Genot?" E eu vou responder dizendo que ela é uma das mulheres negras mais poderosas e assertivas que conheci em 2018, como curadora do 'Festival da transformação em Porto Alegre', e que hoje entrega com uma profundidade desconcertante uma educação para narrativas antirracistas. 

Luana Genot, publicitária, mãe, é diretora executiva do ID_br (Instituto Identidades do Brasil). que é uma organização sem fins lucrativos, pioneira no Brasil e 100% comprometida com a aceleração da promoção da igualdade racial.

O vídeo de Luana atravessou meu feed e me parou:

"Com certeza você já ouviu falar no termo 'minoria' certo?

Mas, já parou para pensar no que ele realmente significa?

Não?! Então preste atenção no vídeo para a gente conversar."

Quando ouço minoria me sinto diminuída, reduzida pois entendo que existe um "quê" de delimitação que fomos educados, e sempre um contra senso ao olhar para a realidade, as ruas e as cores do Brasil em dois recortes: mulher e negra. Somos educados que mulheres, pessoas negras, indígenas e LGBTQUI´s são minorias como um conceito quantitativo e delimitador de espaço social. Porém, quando abrimos esta realidade no caso das pessoas negras percebemos o contra senso e o projeto de exclusão simbólica e prática da sociedade brasileira. Esta minha inquietação já vejo expressa na evolução da narrativa de construção de igualdade e equidade quando entra em cena um novo conceito: o de grupos minorizados.

Grupos minorizados como conceito se baseia no entendimento de que a   sociedade é composta por diferentes grupos sociais. Seja por suas características culturais, fenótipo, gênero, orientação sexual, condição econômica e tantos outros fatores, cada pessoa vivencia realidades e oportunidades diferentes. Essas vivências estão relacionadas aos preconceitos e estereótipos de poder vigentes. Por isso, quando falamos sobre grupos minorizados, fazemos referência a todas as pessoas que se encontram em categorias que sofrem com o preconceito, a desigualdade e a baixa representatividade em espaços de influência. Ou seja, àqueles que, ainda que sejam maioria na sociedade, são minoria nas posições de liderança e tomada de decisão. Então, no caso das pessoas negras no Brasil, por exemplo, o termo minoria é aplicado a uma maioria numérica (56% das pessoas negras e pardas) em um processo de embranquecimento da sociedade brasileira. 

Luana em seu vídeo explica de maneira bem tranquila e humana que a lógica americana não pode ser replicada no Brasil - lá a população negra soma 12%. E que precisamos pensar sob a ótica de grupos minorizados, pois isto significa minoria enquanto lideranças e ocupação de lugar social. Afinal, no Brasil da exclusão, a população negra é minoria no acesso a lugares de poder, pois é maioria na exclusão social, maioria que passa fome, maioria que ocupa presídios, maioria de uma população à margem da justiça social. Luana Genot através de suas redes sociais se tornou uma referência na mídia e uma voz potente que estabelece um elo de questionamento contemporâneo para que possamos desconstruir a visão do racismo brasileiro, sedimentado por 300 anos de regime escravocrata, uma chaga histórica que nos persegue até hoje.

Siga Luana, assista Luana, abra sua escuta para Luana. Veja o vídeo que Luana aborda o tema. Entenda, e principalmente ajude a desconstruir as práticas de exclusão de uma maioria a acessos de lugar de poder e representatividade. As eleições estão aí, os lugares de lideranças das empresas estão aí e precisamos equilibrar esta balança. 

Patricia Carneiro é publicitária, Sênior Planner da Oliver Latin America na Ihouse Itaú. Pesquisadora colaboradora de narrativas emergentes e futuras para a White Rabbit Trends.

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