O debate sobre a representatividade

Por Carlos Macedo, para Coletiva.net em especial Diversidade e Comunicação

Carlos Moreira - Crédito: Arquivo pessoal

Representatividade é mais uma daquelas palavras repetidas nas redes sociais ao ponto de quase ser totalmente esvaziada. Muito se fala sobre o assunto, mas o quão efetivo o debate realmente é? Das diversas formas que a dita representatividade (muitas vezes apenas representação) pode tomar, quantas de fato contribuem para a construção de uma sociedade mais igualitária?

Tanto como escritor quanto como pessoa negra, faço-me essas perguntas com frequência. Sempre que vejo personagens negras escritas por pessoas brancas na literatura ou nos quadrinhos, me questiono até que ponto isso realmente representa uma mudança de paradigma. Por melhores ou mais inspiradoras que essas histórias possam ser, ainda são criações das mesmas pessoas de sempre e inseridas na lógica que rege boa parte da produção cultural há gerações. 

A meu ver, a situação é diferente quando há autoria negra. Pois nesse caso, há o envolvimento de pessoas reais, não apenas personagens fictícias. Acredito que aí começamos a falar da verdadeira representatividade e não de mera representação. Digo começamos porque por mais relevante que seja um quadrinista como Marcelo D'Salete sendo reconhecido internacionalmente ou uma autora como N. K. Jemisin se tornando um ponto de virada na história da literatura fantástica, ainda é pouco se pensarmos em como escritores brancos continuam dominando tanto as listas de mais vendidos quanto às premiações. 

Cito especificamente os quadrinhos e a literatura por serem os meios em que estou diretamente envolvido, mas acho interessante fazer também um paralelo com o audiovisual, que me parece ser uma situação ainda mais complexa. Se por um lado, é necessária a presença de pessoas negras para interpretar personagens negras, quando a equipe de roteiristas é totalmente branca, ainda há o risco de se cair em estereótipos. Ou seja, mesmo nesse caso, quem escreve faz a diferença.

Isso não significa que pessoas brancas não consigam escrever personagens negras. Afinal, a ficção é sempre um exercício de tentar ver o mundo por olhos diferentes dos nossos e há autores e autoras que o fazem com um alto grau de competência. Apenas como exemplos, cito Ana Luiza Koehler, com seu premiado Beco do Rosário e Brian Michael Bendis, roteirista cocriador do Miles Morales, o Homem-Aranha negro. 

Também não podemos ignorar o fato de que a grande maioria das editoras e produtoras pertencem a pessoas brancas. Algo que é apenas um reflexo de como quem ocupa as posições hierárquicas mais altas na sociedade são, via de regra, pessoas brancas. Por isso, acredito que para além do debate sobre representatividade, precisamos de uma mudança nas estruturas de poder. Somente assim, conseguiremos dar os primeiros passos para a construção de um mundo mais justo. 

Carlos Macedo é formado em Letras e é escrito e quadrinista 

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