O que Maio Laranja tem a ver com nosso mercado de comunicação?

Por Marina Mentz, para Coletiva.net

Maio é um mês chave para o enfrentamento às violências contra crianças, por isso chamado Maio Laranja. Mas para que serve o 18 de maio e o que isso tem a ver com o mercado da Comunicação? 18 de Maio é o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, data para alertar sobre o problema que tem grande vulto no País. Cerca de 60 casos denunciados a cada dia, dos quais 75% ocorridos dentro da casa das crianças. E se você nunca tinha ouvido falar na data ou já havia visto algo, mas não sabe direito o que significa? é por isso que o assunto tem a ver com comunicação.

A data foi criada há cerca de 20 anos, uma década depois da criação do Estatuto da Criança e do Adolescente, o ECA. Esse dia foi escolhido, infelizmente, em função de um caso que chocou muita gente e que marcou a história do País. Foi o acontecimento que ficou conhecido como Caso Araceli. Aconteceu no Espírito Santo, com uma menina de oito anos, que foi sequestrada e violentada, agredida sexualmente, e que teve todos os seus direitos violados. Até hoje, os adultos responsáveis por isso não foram responsabilizados, pelo que foi considerado um crime hediondo, e os agressores seguem impunes. A proposta dessa data é acender o debate e conseguir levar ao público informações que são, infelizmente, a realidade de muitas crianças.

A gente, enquanto profissionais da Comunicação, tem muito a contribuir para conseguir enfrentar e combater este problema tão presente na nossa sociedade - embora não se fale a respeito e o silenciamento, assim, impere nos ambientes de mídia. A campanha do 18 de Maio, do Projeto Faça Bonito, acende o alerta e ajuda a gerar responsabilização do poder público e da sociedade civil que, sim, pode fazer sua parte em relação a isso. 

Importante também que, com essa campanha, a gente possa refletir a importância de fortalecer os laços com as crianças e adolescentes de nosso entorno, para que este público tenha em adultos de sua confiança um caminho para conversar, para tirar dúvidas ou mesmo para trazer relatos de alguma situação de violação de direitos, de violência sexual, que possam estar acontecendo com elas. Estabelecer a confiança com crianças e conseguir dialogar com elas de uma maneira franca sobre sexualidade, sobre o seu corpo, sobre o que que é correto ou não que outra pessoa faça com o corpo dessa criança, são caminhos fundamentais para a gente conseguir enfrentar a violência sexual infantil aqui no País. Então, é o papel da família, das escolas, dos jornalistas, do poder público, da sociedade civil como um todo fazer a sua parte em relação a isso.

Primeiro de tudo, é preciso reconhecer que esse problema existe. Segundo: a gente precisa fazer nossa parte denunciando ações de violência ou suspeitas de violência pelo Disque 100. E, para que se entenda com clareza o papel do comunicador neste âmbito: enquanto jornalistas, temos que fazer a nossa parte trazendo o tema para a pauta e tratar assunto com respeito e com os limites necessários - para não acabar gerando efeito contrário ou ações nocivas às vítimas em recuperação. Informar com serviço e não com espetacularização.

A campanha do Maio Laranja, cujo símbolo é aquela florzinha de mesma cor, aparece em muitos municípios e toma o Brasil inteiro em conselhos tutelares, prefeituras, governos estaduais, com iniciativas de conscientiação e enfrentamento à violência sexual contra as crianças. Mas na pauta, o tema é apenas uma leve sombra e, geralmente, em datas como esta. No cotidiano dos jornais, a violência sexual contra crianças está longe de ser proporcionalmente representada em relação ao número diário de denúncias. 

Para que possa haver uma cobertura coerente e respeitosa, é necessário sensibilização e conhecimento em relação ao tema. Neste ponto, há diversos produtos culturais que podem auxiliar. Com produções justas e responsáveis, as dicas abaixo são riqueza pura na hora de entender mais sobre a complexidade do problema da violação de direitos das crianças e suas interfaces com a mídia:

Podcast "Projeto Humanos: Caso Evandro" - Spotify 

Série documental "O Caso Evandro" - Globoplay

Documentário "Diga Quem Sou" - Netflix

Série documental "O Desaparecimento De Madeleine Mccann" - Netflix

Filme "Um Olhar Do Paraíso"- Netflix

Infelizmente, eu não tenho as respostas para todas as perguntas ou a solução para todos os problemas, mas o que eu posso dizer é que cada um de nós pode fazer a sua parte, seja denunciando, seja debatendo. Promover o debate de uma maneira respeitosa para assim contribuir para garantir que as crianças tenham infâncias mais seguras e possam crescer como adultos saudáveis, e viver as infâncias de forma segura e protegida - como deveria ser para todas as crianças. 

Marina Mentz é jornalista e pesquisadora da Comunicação.

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