Pandemia, Fake News e Educação Midiática
Por Balala Campos, para Coletiva.net
Um dos temas unânimes durante o 15º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo da Abraji, organizado em setembro, foi a necessidade de o Brasil implantar um projeto de Educação Midiática nas escolas. Esta seria a forma mais adequada e consistente de minimizar os efeitos das Fake News, no entender dos palestrantes internacionais e brasileiros convidados pelo evento online, o qual abordou com excelência inúmeros outros aspectos da comunicação atual.
"A desinformação se tornou um negócio lucrativo", afirmou Craig Silvermann, da Buzzfeed, Inc. "Parte das notícias falsas são produzidas na Macedônia, em Bangladech e Vietnã, por jovens que são demandados pelos países desenvolvidos e pagos em dólar, o que representa para eles um enorme ganho financeiro." Para o líder da Buzzfeed, "os governos têm que instruir o povo para este novo ambiente, através da Educação Midiática, com o foco de produzir um espírito crítico apurado".
Já Roberta Jansen, do Estadão e do Projeto Comprova - composto por 28 jornalistas de veículos diversos, com o objetivo de descobrir e investigar informações falsas - salientou a dificuldade dos editores na atualidade. Esta foi a primeira pandemia da era da interconectividade, afirmou. "Das cerca de 200 informações diariamente recebidas, tínhamos que investigar a veracidade de cada uma delas, já que a maioria chegava em preprint."
O diretor de Jornalismo da TV Cultura, Leão Serva, também enfatizou que os efeitos das fake news podem ser amenizados com a Educação Midiática. Para ele, o jornalismo vive seu melhor momento, mas há uma crise da imprensa como modelo de negócio. "O jornalismo terá que encontrar outra forma de financiamento, mas vai se fortificar. As mídias sociais não vão destruir a imprensa, assim como a televisão não enfraqueceu o rádio."
Washington Olivetto também ressaltou a importância de um projeto de Educação Midiática para o Brasil e afirmou: "Nunca a mídia tradicional foi tão importante devido à sua credibilidade". Olivetto elogiou o fato de os grandes veículos brasileiros terem se unido no combate às Fake News durante a pandemia. Segundo o brasileiro, que é um dos mais reconhecidos publicitários do mundo, "as redes sociais nunca vão destruir o Jornalismo, desde que estes saibam se reinventar, produzindo principalmente conteúdos de excelência".
Já para o renomado neurocientista brasileiro Miguel Nicolellis, as Fake News estão prejudicando a possibilidade de retrocesso da pandemia, e podem ter efeitos catastróficos para a saúde das populações. Segundo Nicolellis, "o que acontece no Brasil é uma grande confusão de informações. O Brasil deveria ter criado, desde o início da pandemia, um Comitê Científico Nacional que se comunicasse diariamente com o presidente da República e com a imprensa, para que as informações fossem corretas, tal qual fizeram os países europeus e os Estados Unidos. Se isto tivesse ocorrido, os jornalistas não teriam que ficar checando centenas de informações sobre o Covid-19 a cada dia. Em sua visão, o casamento da ciência de alto nível com a imprensa de alto nível é fundamental, especialmente neste momento de pandemia", concluiu.
Balala Campos é jornalista e diretora da Balala Campos Assessoria em Comunicação.
Coletiva