Pensamentos sobre música e Comunicação
Por Camila Melo Ferrareli, para Coletiva.net
Pequenos pensamentos sobre música e comunicação, um texto escrito por alguém que ama música e só sabe falar sobre esse assunto, só para complementar o título do artigo. Agora, iniciando de fato essa escrita, me pergunto: será que existe algum comunicador que não é apaixonado por música, filmes, séries ou cultura pop em geral? Por comunicador, me refiro aos jornalistas, publicitários e relações públicas que entram na graduação com o sonho de viver da sua arte, mas acabam tendo as redações, agências ou empresas tradicionais como postos de trabalho. A relação entre cultura e comunicação é muito próxima, e sim, estou tirando essa afirmação da minha cabeça, mas sei que essa é a minha história e a de tantos outros colegas que chegaram na comunicação com os mesmos interesses. Mas a verdade é que outros fatores nos levam a falar que essa relação é definitivamente real. Há algumas semanas, estava lendo um artigo e o tema me despertou novamente essa curiosidade: as plataformas de streaming de áudio são os novos "porteiros" do mercado musical. Era um texto científico escrito por dois pesquisadores italianos e eles afirmavam que, antigamente, o termo "porteiro" era usado para os editores das redações, as pessoas que definiam a entrada de cada assunto nos seus veículos, de acordo com as verticais ali abordadas. Até aí tudo bem, mas e a música? Os "porteiros" hoje em dia são os editores das playlists das plataformas de streaming. Eles ainda afirmam que a pessoa mais influente do mundo em 2019, na época do texto, era o editor chefe da playlist Rap Caviar, o indivíduo que precisa ouvir o seu som caso você esteja almejando sucesso na música. Ok, entendendo o que são os porteiros, acaba aí a relação entre música e comunicação? Não, esse é só mais um ponto de ligação não somente entre os assuntos, mas também entre o dia a dia e as funções que cada setor exerce. Mas voltando à curadoria, outra coisa me chama a atenção: a música é tratada como uma notícia, que precisa seguir alguns critérios para ser veiculada, como a novidade e a relevância. E é apenas nesse sentido que acredito que a curadoria das plataformas de streaming se distancia dos meios tradicionais de comunicação, pois sabemos que não é possível viver apenas de novidades e que a relevância é variável para cada ouvinte. Ainda sobre a novidade, outro ponto me chama a atenção e toma os meus pensamentos com frequência. Há uns dois anos, li uma matéria que dizia que as músicas antigas (de catálogo) seriam o material mais consumido nas plataformas de streaming nos próximos anos, e isso aconteceu bem mais rápido do que o previsto. Pare e pense em quantas canções antigas você ouviu num Reels ou num TikTok ultimamente. Pode até ser uma nova versão, mas eu aposto que a maioria foram músicas que você já conhecia, e você vai buscar por ela novamente na sua plataforma de streaming. E o que isso tem a ver com a comunicação? Tudo. Vivemos em um mundo imerso nas redes sociais, com muitas coisas novas surgindo a cada momento, mas cada vez mais temos a certeza de que o que é bom, de qualidade, sempre dura: a volta das faixas de catálogo, a necessidade de se ter uma boa curadoria, independente do canal e, por fim, essa geração de comunicadores que chegam ao mercado de trabalho com essa sede de arte. E eu espero que essa relação entre cultura pop e comunicação nunca mude, pois acredito fielmente que essa é uma das coisas mais lindas de se ver e se viver. A criatividade é uma das maiores virtudes que podemos ter e estar alimentado de arte é o que dá a beleza em tantas tarefas que exercemos no nosso cotidiano enquanto comunicadores.
Camila Melo Ferrareli é executiva de mídia digital na HOC e Doutoranda em Indústria Criativa