Por que resolvi escrever uma história no regionalismo, e lançá-la na Feira do Livro

De Daniel Pires Christofoli, para o Coletiva.net

Escrever liberta. Não há dúvidas disso e o escritor deve usufruir dessa premissa ao máximo - e se você ainda não conseguiu, liberte-se dos grilhões e padrões rígidos e deixe fluir a sua criatividade, pequeno escriba. Tudo é comunicação. Tenha certeza.

Até a 70ª Feira do Livro de Porto Alegre, que começou no dia 1º de novembro, do delicado ano da enchente, eu jamais havia escrito uma palavra dentro desse gênero [posso dizer hermético, sem tomar golpe de boleadeiras no melão?], denominado de regionalismo.

Regionalismo é algo forte, no meu querido Rio Grande do Sul. É algo sério, relacionado às tradições. Tradições que estão em mim, um guri criado no bairro Medianeira, da Capital, até aquele piá criado em Serafina Corrêa, cidade no norte do Estado. Opa! Então existe uma aproximação? Existe.

A partir disso, tirei criatividade, de dentro da minha caixa de ideias, e me arrisquei a coloca-las no campo de batalha da Revolução Federalista [também conhecida por sua alcunha macabra, no imaginário popular gaúcho: "Guerra da Degola"].

Arrisquei-me, então, a escrever uma história, em três capítulos, que, no final, chamei de "Terra de Sangue", pois lá em cima está o sol, no meio a mancha de sangue e, embaixo dela, a terra [um gramadinho brigando para permanecer verde, diante de tanta matança].

Entusiasmado, taquei lá denúncias sociais, mas, igualmente, um demônio escondido em uma caverna, convocado pela matança humana, louco para alcançar a carne da gauchada, com seus poderosos tentáculos [É isso mesmo que você leu!]. Na sequência, um jornalista carioca tropicando nas trincheiras gaudérias republicanas, federalistas, ou dos chimangos e maragatos, bem poderia ser de Grêmio e Inter, e perdendo sua sanidade tupiniquim, em meio a essa eterna briga bipolar e fratricida, enquanto segue atrás de um homem que virou Leão-baio [É isso mesmo, viu?]. No final, a tomada de Bagé, em um ritmo frenético, sob a perspectivas de personagens que se conectam a denúncia social do primeiro capítulo, mas também a mulher empoderada, que aqui doma três bezerros, sem fazer força e peita o Coronel, seu mau-caratismo e seus olhos demoníacos em chamas [sem surpresas, né?].

Ufa! Terminada a escrita desse livro, produzido inteiramente com recursos da "Lei Paulo Gustavo" [você funciona! Coloquei lá, nos agradecimentos, inclusive], veio o desejo de lançar o livro na 70ª Feira do Livro de Porto Alegre.

Sou porto-alegrense. Sou gaúcho. Tenho um grande carinho pela Feira, seja como leitor, ou como escritor. A Feira nos une [e, a desse ano, principalmente!].

O tradicionalismo gaúcho nos une, como já falei, lá no começo. Então, autorizo-me a escrever um livro nesse gênero, e você também deveria, jovens escritoras e escritores.

Não deixe se impressionar pela carranca, barba longa, bombacha, chapelão e mate sempre à mão. Isso tudo é seu também.

Arrisque-se e dê novas cores a essa história. Você pode tirar o amarelo, lá em cima. O sangue no meio e o verde do chão. Bote as cores, nomenclaturas e indumentária que você entender [escrever sempre será libertador].

Arrisque-se e depois, se der, lance o seu livro na Feira do Livro!

Daniel Pires Christofoli é Advogado e escritor

 

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