Projetar para pessoas, não para personas
De Beto Fonseca, para o Coletiva.net

Com o avanço da inteligência artificial (IA), o design entra em uma nova era que exige a superação de práticas tradicionais. O conceito de AI-First Design propõe uma mudança de mentalidade: em vez de projetar com base em personas genéricas, o foco se volta para o indivíduo real, em tempo real. Essa abordagem, chamada de personalização humana, exige que as soluções digitais sejam moldadas às necessidades, comportamentos e contextos únicos de cada pessoa.
Nesse cenário, o papel do design é ampliado. Em vez de criar apenas interfaces estáticas, os profissionais passam a desenhar sistemas adaptativos, que evoluem com o uso e aprendem com dados. A entrega do design não é mais um produto final, mas um sistema vivo. Isso exige desaprender métodos antigos e desenvolver novas habilidades, com domínio sobre fluxos de dados, machine learning e inteligência contextual.
Essa transformação também desafia modelos como o Lean UX, pois o ciclo de aprendizado deixa de ser reativo e passa a ser contínuo, em tempo real. O uso da IA permite experiências dinâmicas, personalizadas e mais relevantes, mas também traz responsabilidade sobre privacidade, ética e inclusão. A personalização verdadeira não é apenas estética, ela é estrutural e centrada no ser humano.
Empresas que atuam com produtos digitais já aplicam esse raciocínio para criar experiências sob medida. Interfaces são geradas e ajustadas com base em algoritmos, promovendo não só eficiência, mas também empatia e proximidade com o usuário. Para isso, é essencial seguir princípios como ética, transparência, empoderamento do usuário e privacidade desde a origem.
A IA deve ser vista como um catalisador de experiências mais humanas e não como substituto do olhar sensível e responsável do design. O desafio está em equilibrar inovação com impacto positivo, promovendo soluções que respeitem a diversidade, o contexto e a individualidade de cada pessoa.
Beto Fonseca é fundador e diretor de Design da TRINCA