Quando a ética, também do Jornalismo, vai pro saco

Por Iraguassu Farias, para Coletiva.net

Calma gente! Não vou falar de escândalo perto de nós. Mas é escândalo mesmo assim. Dinheiro só troca de mão. Não brota da terra, nem dá em árvores. E, sempre, quando alguém ganha, alguém perde. Sei, é simplista demais. Mas é assim mesmo.

Poderia falar de um país que anualmente entrega metade do que arrecada - e sai do nosso bolso, para banqueiros, que não produzem um parafuso. Manter a taxa Selic alta, a tal taxa de juros determinada pelo Banco Central, não serve apenas para, tecnicamente, conter a inflação. Serve, e muito, para transferir dinheiro para este povo. E é bem assim. O Brasil, país, união, entrega, sim, metade da arrecadação dos impostos para pagar juros dos cheques pré-datados que emite e que estão nas mãos dos bancos, fundos de pensão, corretoras. E daí que falte para investir em saúde, educação, segurança. F...-se! E isto não é com este governo ou aquele. Sempre foi assim no modelo capitalista.

Mas do que eu quero falar mesmo? Ah, deste mercado financeiro nervoso, com fortunas trocando de mãos da manhã pra tarde. E que se move também, e muito, pelas informações que grassam pela imprensa. Uma notícia, boa ou ruim, veiculada, mexe com o mercado financeiro, de títulos, de juros ou de ações.

Muitas vezes, como consumidor de notícias, e militando no mundo da informação, digo que "em duas linhas, uma caneta, a depender do veículo, pode destruir uma reputação ou incensar um canalha". E pode, também, tornar alguém rico.Daí falar-se muito em ética jornalística, que hoje está muito ligada ao tal compliance (dá pra dizer que, aqui, a lógica é que todo mundo é safado, e tem de provar que não é).

Indo ao ponto? Uma jornalista do Grupo Record foi demitida. Fez-se justiça. Mas e daí? Daí que ela usou informações de uma entrevista com o presidente e, antes de ir ao ar, ela passa o conteúdo - aquele que interessa, à uma corretora da qual é sócia. E, nesta corretora, há outra sócia também jornalista. Sabendo que a declaração do presidente, como sempre, influenciaria no movimento de capitais, a corretora aciona sua carteira de clientes e antevê o que poderá, quando divulgada a informação, acontecer com o mercado. Da manhã pra tarde, opera nervosamente sua carteira e, ao final do dia, depois de vender suas posições na alta, fatura 400 milhões de reais. E foi demitida. E a justiça foi feita. Foi?

Não sou arauto da moralidade, nem palmatória do Jornalismo. Longe disto. Mas incomoda muito aos que, como eu, levantam cedo pra vender de manhã e alimentar-se à noite. E incomoda também quando vemos empresas gaúchas com dificuldades de venda pós-enchente irem ao banco pedir empréstimo e lhe ser negado por que não tem a CND de um governo que é o mesmo que às vezes leva seis meses pra te pagar um serviço. Que o digam as agências, que, para participarem de uma licitação, têm que ter uma vida tão ilibada, muito maior até do que aquele que está licitando. Digo e afirmo: é esdrúxulo o empresário ter de pagar um imposto sobre uma fatura que ainda nem recebeu do Estado, para poder continuar provando sua idoneidade financeira e poder continuar vendendo ao mesmo Estado. Não faz sentido!

Para eu vender mídia para um determinado órgão estatal ou paraestatal, mesmo através de uma agência, tenho de provar que recolhi o FGTS e paguei a guia do SIMPLES. Mas vem cá: o produto não é meu? Deveria ser eu a exigir que ele provasse que vai me pagar em dia e que cumpre com todos os seus pagamentos. Ou não? Sistema ilógico. Ou quando, pra vender pro Estado, tenho de provar que não devo pra União. Mesmo que esteja em dia com os impostos dele, o Governo Estadual.

Mas, pra variar, desviei do assunto. Ônus de não ser jornalista e escrever com técnica.

Vivemos no RS tempos difíceis. Mas também porque não conseguimos eliminar nosso estilo "caranguejo". E vamos sempre louvar São Paulo. Quando descobrirmos o segredo da sua pujança, talvez mudemos nossas práticas comerciais.

Mas mesmo lá, também dá pra se irritar. Ou não é irritante saber que a grande imprensa segue seu mantra a favor da privatização - e não estou julgando, só constatando, e mancheteia as maravilhas da privatização da Sabesp, onde a Equatorial, que nunca na vida operou saneamento básico, de manhã comprou o controle daquela estatal pagando R$ 0,67 a ação, e no final da tarde ela estava cotada a R$ 0,82. Embalada por notícias dos jornalões sobre o "agora vai", a Equatorial ganhou bilhões de um turno para outro, creiam, apenas participando da compra da tal Sabesp.

E eu me desespero pra tentar vender pro pior mercado comprador do mundo, que é a Comunicação. Ela sabe ganhar dinheiro fazendo clientes ganharem mais através de seu trabalho ou de seus veículos, mas não aplica a mesma receita para si. É boa demais pra precisar valer-se do mesmo expediente.

Voltando ao título: o mercado vale-se muito da imprensa para se mover. E ela vale-se dele para seguir adiante. Ou não é verdade que os maiores anunciantes são os bancos? Ou achamos que jornalistas econômicos e os donos de veículos vivem apenas de seus salários e de seus anúncios medidos pela audiência dos institutos de verificação?

Desculpem a generalização.

Acho que vou parar de me informar....hehehehe.

Iraguassú Farias é diretor Comercial de Coletiva.net. 

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