Rotina intensa. Felicidade também

Por Daiani Oliveira, para Coletiva.net, em especial de Semana da Mulher

Seria muito clichê pedir que o dia tivesse 48h? Todas as pessoas com múltiplas funções falam isso. E, por obviedade, não adiantaria em nada. O dia com 48h é a mesma dinâmica das metas: bata a meta do mês e no seguinte ela será dobrada. Ou seja, cumpra a pauta diária (aqui, entram compromissos profissionais e pessoais) e no dia seguinte tu vais colocar mais coisas na pauta. Não temos como fugir! A rotina corrida nos engole. Sempre.

Recebi um desafio: escrever! Eu surfo no meio dos jornalistas, mas não escrevo e não tenho a menor facilidade para tal, ainda mais para falar de algo tão difícil: eu mesma!

Sei falar sobre muita coisa, não sou nada tímida, mas parar e escrever um texto, sobre euzinha aqui, foi quase uma sessão de terapia. Para refletir sobre ser mulher em todas as minhas múltiplas funções, foi necessário um olhar bem profundo para a minha rotina e perceber algo surpreendente. Eu sou f*d@ pra c@r#lho!

Pra quem não me conhece muito bem, vou me apresentar bem rapidamente. Podem me chamar de Dai, sou publicitária, trabalho em tempo integral na 2Day Gestão de Lançamentos, uma empresa de consultoria para o mercado imobiliário. Em tempo mais reduzido, trabalho aqui mesmo, no Coletiva, na área institucional - e em tudo o que puder ajudar (menos se precisar escrever, essa função fica com quem realmente sabe, e essa galera aqui sabe muito!).

O Coletiva é da família e, portanto, é sempre parte das conversas dos almoços aos finais de semana. Acompanhei o crescimento do portal e todos os novos produtos que foram lançados. Sei do trabalho lindo que a minha cunhada e o meu sogro fazem. Ah, e acho que não falei isso na apresentação acima: para quem não sabe (que deve ser um total de cinco pessoas), sou cunhada da Márcia e nora do Farias.

Além de dois empregos, sou mãe de uma dupla dinâmica, a Cecília (5 anos) e o Vicente (2 anos). É isso mesmo, tenho a mesma quantidade de empregos e filhos, e já entendi que não posso ter mais nenhum - nem emprego, nem filhos!

Vivo uma maternidade atípica com o Vicente. Ele nasceu com Associação de Vacterl, que é um conjunto de malformações congênitas tipicamente caracterizadas pela presença de pelo menos três das seguintes malformações: vertebrais, atresia anal, cardíacos, atresia esofágica, anomalias renais e anomalias dos membros. Das seis, o Vicente teve quatro, o que resultou em uma rotina de cirurgias, internações, terapias e tudo que envolve cuidar de alguém com uma necessidade especial. 

Nos informamos, estudamos, aprendemos e nos acostumamos com tudo. Eu, como mãe, tive que aprender já na gestação (que foi de risco) que as coisas não seriam iguais a vez da Cecília, e que a vida que tínhamos iria mudar. Foram gestações diferentes, inícios diferentes, filhos diferentes, um maternar diferente. Um amor igualmente imenso.

Aprendi que um dia nunca será igual ao outro, mas aprendi também que posso contar com uma rede de apoio incansável, e que só dou conta de tudo pois tenho um parceiro de vida incrível. Ele topa tudo e me dá total cobertura nas viagens a trabalho e na ausência diária. É também verdade que os momentos só meus são mais raros, mas estou aprendendo a fazer, sem culpa, tudo o que for para me sentir melhor e ficar bem. Afinal, no dia seguinte, preciso acordar e cuidar com o mesmo carinho de todos. 

Eles vão sempre estar em primeiro lugar na minha vida, mas não são, de forma alguma, impeditivos para minha dedicação profissional, ou para maratonar uma série, ou para ver um filme, ou para fazer um happy hour, ou até mesmo para ir ao salão de beleza. Os meus filhos somam na minha vida, eles me dão coragem.

Quero que a Cecília me veja como um exemplo, que eu consiga ensinar a ela a importância de se impor como mulher e que ela não aceite ser tratada de forma diferente por isso. E quero ensinar o Vicente a conviver com mulheres fortes e que ele nunca trate diferente nenhuma delas.

Seguimos buscando respeito e igualdade em todos os lugares, nos nossos lares, no ambiente de trabalho, nas ruas. Que consigamos isso, principalmente para que as meninas de hoje não tenham que fazer o mesmo no futuro. 

Daiani Oliveira é publicitária e gerente de Inteligência Institucional no Coletiva.net.

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