Saber se comunicar também é assumir um compromisso com a diversidade

Por Francine Malessa, para Coletiva.net, em especial de Diversidade e Comunicação

Francine Malessa - Arquivo pessoal

Não tenho pretensão alguma de convencer ninguém a utilizar "todes", "juntes" ou algum termo semelhante. Até porque, de nada adianta adotar expressões "da moda" sem compreender o que elas significam. No entanto, se você quiser construir um ambiente mais inclusivo para acolher os marcadores sociais de diversidade presentes nos espaços em que convive, vai ser necessário também ter atenção com a sua maneira de se comunicar. Pois, adotar a linguagem inclusiva é o primeiro passo para valorizar as singularidades e gerar o sentimento de pertencimento nas outras pessoas.

É comum observar resistência com a adoção do gênero neutro, como em "todes" ou da inflexão para o feminino, como já foi amplamente debatido na época em que foi adotado "presidenta" pelo Governo Federal em 2010. Muitas vezes, a justificativa se baseia na linguagem formal, afirmando que do ponto de vista gramatical não estariam corretos. Geralmente, eu devolvo uma pergunta: "E quem decidiu que gramaticalmente temos que adotar, aqui no Brasil, o masculino como padrão?"[1].

A comunicação e seu conjunto de códigos de linguagem são resultados sociais de uma determinada população. A busca pelas normas formais da gramática como escudo para evitar o que é inevitável é, também, um recurso sexista cis heteronormativo. Cis é um termo para definir pessoas que se identificam com o sexo biológico com o qual foram designadas ao nascer. Já a heteronormatividade foi cunhada em 1997 por Cathy J. Cohen como um sistema que determina e privilegia o que é considerado "norma" a partir de gênero e sexualidade.

O cerne da questão é que vivemos em uma estrutura muito mais excludente do que inclusiva, começando pela nossa própria forma de se comunicar. Inclusive, este tem sido um desafio interno das organizações, bem como nos setores de comunicação externa e marketing. Basta um termo ou uma estratégia mal conduzida para levar a sua marca para uma gestão de crise.

Por isso acredito que obrigar as pessoas a utilizarem termos sem a compreensão do que eles de fato significam, não é o melhor caminho. Embora eu seja adepta aos pronomes neutros, e perguntar às pessoas como elas preferem ser chamadas nunca foi um problema, entendo que ainda estamos em um ponto anterior neste debate. Precisamos todos, todas e todes, transcender a ideia de que a comunicação se limita a um conjunto de regras.

Muitas pessoas me questionam como e por qual aspecto podem começar a trabalhar a diversidade, não apenas nas suas empresas e ambientes de convívio coletivo, como também na sua própria jornada. Minha resposta inicial é a escuta ativa, pois acredito que só conseguimos compreender o ponto inicial do nosso trajeto quando percebemos onde estamos. E escutar também faz parte do caminho, afinal, só escutará bem o que for comunicado assertivamente.


[1] [...]a expressão do gênero gramatical em português é, na maioria das vezes, obrigatória, e existem apenas os gêneros gramaticais masculino e feminino, não havendo um gênero gramatical específico para o gênero humano. Uma das estratégias mencionadas para contornar esse problema é recorrer a um dos gêneros existentes, no caso do português, ao masculino ou ao feminino. Entre esses dois, escolhe-se em português, na maioria das vezes, o masculino. E aí entra a questão do sexismo gramatical: por que escolhemos o masculino, e não o feminino? (MÄDER, 2015, p.99)

Francine Malessa é mestra em Comunicação e fundadora da Diversidade Conecta

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