Silenciar também é se posicionar

Por Liana Bazanela, para Coletiva.net

Liana Bazanela - Crédito: Arquivo pessoal

Tá na mídia, nos jornais e nas redes sociais. Todos os canais chamam atenção para intolerância a comportamentos abusivos, invasivos, desrespeitosos e inadequados e, todos sabemos, são as mulheres as maiores vítimas. Mas e no meio do futebol, onde temos inúmeros ídolos, líderes e clubes que movem este mercado, como foram as manifestações a respeito dos dois casos, do Robinho e Daniel Alves? 

Existe uma dissonância entre o que a sociedade clama e os atores que têm protagonismo no meio. Há um vazio, um silêncio da maioria dos agentes neste mercado, que merece a nossa atenção.  

É admirável o posicionamento - solitário - da Leila Pereira, Chefe da delegação da seleção brasileira e presidente do Palmeiras, sobre condenações por agressão sexual envolvendo os ex-jogadores da equipe nacional. A fala dela gerou discussão sobre a importância de pessoas que têm voz, espaço e influência não se calarem frente a fatos como este. 

Outra manifestação importante foi a campanha contra a "cultura do estupro" lançada pelo Sport Club Bahia. O filme ganhou repercussão internacional, não só nos veículos, como também em diferentes rodas de conversas, pela brilhante forma de chamar a atenção e promover um protesto contra a violência sexual e por mostrar que os clubes também são coresponsáveis em promover a mudança de forma educativa. 

O silêncio colabora com a impunidade e a perpetuação de comportamentos misóginos, machistas e violentos. É fundamental "colocarmos luz neste assunto", mostrando a real dimensão dos casos. 

Qual a responsabilidade e influência de um ídolo do futebol na nossa sociedade? Quantos meninos e meninas sonham em ser um jogador ou jogadora e se espelham em quem já "chegou lá", como um jogador idolatrado da seleção brasileira?

Ídolos são pessoas que têm a paixão e admiração dos seus fãs. Criminosos são indivíduos que violam uma norma penal sem justificativa e de forma reprovável. Um ídolo é uma referência, um exemplo a ser seguido. Mas um crime se sobrepõe a qualquer idolatria. 

Não podemos silenciar! Não é aceitável ser conivente com a banalização destes episódios.

Clubes, jogadores e dirigentes precisam estar em sintonia com o momento, participando e promovendo uma mudança propositiva. E quem pode cobrar isso são as marcas patrocinadoras. 

Os patrocinadores que vinculam seus negócios com o mercado do futebol podem e devem ser agentes na mudança deste cenário. Afinal, quem gostaria de estar vinculado a um clube que não respeita a voz das mulheres, que estão cobrando atitudes de repúdio à falta ou insuficiente punição dos infratores? 

Manifestar-se sobre o assunto ou manter o silêncio para evitar "polêmicas" e desentendimentos? É uma escolha. A responsabilidade de mudar a história é de todos.

Liana Bazanela, ex-diretora de marketing do Internacional ([email protected])

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