Sou ou não jornalista? Dizem que não

Por Lúcia Faria Estou com problema de identidade. Não sei mais quem sou. Acabo de ler o imenso artigo de Eugenio Bucci no Estadão …

Por Lúcia Faria
Estou com problema de identidade. Não sei mais quem sou. Acabo de ler o imenso artigo de Eugenio Bucci no Estadão (dia 9), sobre a antiquíssima discussão se assessor de imprensa é ou não jornalista. Formada em jornalismo em meados dos anos 80, atuei anos dentro de veículos de imprensa. Há oito virei empresária, proprietária de uma assessoria de comunicação. De uma amiga, árdua batalhadora dos direitos da profissão, escutei um dia: agora você é "patrão". Doeu profundamente aquela apunhalada. Segundo ela, agora eu exploro, antes era explorada.
Bem, se me formei em jornalismo, eu seria então?jornalista? Com minha especialização em RP, me tornei? relações públicas? Nada disso. A entidade do setor também não me reconhece como RP. Ok, então onde me classifico, além de ser, para alguns, exploradora de mão de obra? Aliás, um mocinho sonhador recém-formado um dia me disse que queria abrir sua própria empresa para deixar de enriquecer os outros. Coitado, não sabe quantos boletos de impostos o esperam.
Que faculdade, então, as pessoas que atuam nessa área deveriam ter feito? Sim, porque os cursos de jornalismo, nesse caso, não nos servem. Aliás, nem diploma é preciso mais para atuar na grande imprensa, segundo a lei atual. Há faculdades de comunicação corporativa? Não conheço. Será que os cursos de RP preenchem essas lacunas? Não sei bem, precisaria pesquisar melhor a grade curricular deles. E o que fazer com os jovens que passam por assessoria hoje e amanhã estão em veículos? Eles não eram jornalistas e agora são? Oito pontos de interrogação em um parágrafo tão curto parece falta de qualidade no texto, mas servem para demonstrar o quanto a questão é complexa.
No fundo, no fundo, não estou preocupada comigo, que já estou com muitos quilômetros rodados, mas com quem ainda sonha e pouco discute. É hora de os assessores promoverem amplo debate. Quem se omite, se submete.
PS. - Depois de escrever o texto acima, pedi para um colega ler e dar opinião. Primeira pergunta dele: afinal, qual sua opinião? Eu sou jornalista, respondi. Em seguida, o debate pegou fogo na agência. Ou seja, precisamos mesmo discutir mais a respeito. E, quem sabe, eu entenda o que sou de fato.

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