Todes: não é sobre norma culta, é sobre carinho e visibilidade
Por Luan Pires, para Coletiva.net

"Eu passei minha vida inteira tendo medo. Medo de não estar pronto, de não estar certo ou de não ser o que eu deveria ser. E para onde isso me levou?". Essa frase é de uma série chamada A Sete Palmos, e decidi iniciar com ela porque exemplifica como o medo, entre muitas outras coisas, leva minorias à invisibilidade. Para todos entenderem: o direito de existir na nossa sociedade passa também pelo direito de ser visto e, veja só, o direito de ser visto na Comunicação passa pelo pressuposto de ser nomeado.
Não quer dizer que, para existir, precisamos ser categorizados. Não é isso. Mas a cada letra que incluímos na sigla LGBTQUIAPN+ temos um novo acolhimento. Enquanto tem apresentadora de televisão debochando do número de letras, o que o movimento está dizendo com elas é: nós te vemos porque você faz parte disso, aqui você tem voz e existe do jeitinho que você é.
Essa discussão é ampla, mas ela tem aplicabilidade real na Comunicação. Seja quando usamos em algumas comunicações pronomes neutros, seja quando consideramos o recorte de uma minoria em específico. Todos esses movimentos de visibilidade não querem mudar normas. Pouco importa isso, para ser sincero. É apenas uma forma de inclusão, de dizer "eu me importo com você". É essa a discussão importante a ser feita, e não se tal termo faz parte da língua culta ou não.
O Dossiê BrandLab do Google afirma que as buscas pelo termo "diversidade" no Brasil cresceram nada menos que 30% no último ano, mostrando que o assunto se tornou uma pauta política e global. O crescimento médio de views de conteúdos sobre Homofobia, LGBQIA+, Feminismo e Racismo foi de 260%, apenas nos últimos seis meses, e as buscas pelo termo 'transgênero' aumentaram 123% no último ano. Isso significa que estamos caminhando para a visibilidade, mas ainda precisamos ser questionados sobre porque queremos ser vistos.
Vocês sabiam que há seis vezes mais conteúdo sobre silicone do que sobre aceitação e autoestima no Youtube? Isso não quer dizer nada, mas talvez queira dizer muito. É hora de todos nós, principalmente comunicólogos, entendermos que dar visibilidade às minorias e aos assuntos pertinentes não é privilégio, é gerar equidade, bem-estar social e também dizer para todos, que passaram a vida inteira achando que não poderiam existir, que, sim, eles podem. E se precisarmos criar mais 20 letras para todos se sentirem devidamente incluídos, que seja!
Porque ter o direito de ser visto é o primeiro passo para dar voz à diversidade.
Link do dossiê da Google: https://www.thinkwithgoogle.com/intl/pt-br/futuro-do-marketing/gestao-e-cultura-organizacional/diversidade-e-inclusao/dossie-brandlab-diversidade/
Luan Pires é jornalista e executivo de Planejamento Estratégico e Comportamento.