Uma vacina para as pequenas empresas

Por Maribel Lindenau, para Coletiva.net

Estamos vivendo uma crise global sem precedentes na era moderna. A pandemia do Covid-19 tem abalado todos os setores da economia, independentemente do tamanho e da estrutura dos empreendimentos. Mesmo com os esforços de todos, os melhores prognósticos indicam que, no Brasil, por ao menos 180 dias viveremos um período com menos negócios, redução no volume de vendas e também de contratações.

E como ficamos nós, empresários do ramo da comunicação? Em momentos como esse, de maneira indistinta, empresários e autônomos sofrem o impacto da retração econômica. E se não chegamos no pior momento da pandemia, podemos ainda nos preparar? 

Pessoalmente, acredito que sim. Uma vacina muito eficaz e amplamente utilizada em crises anteriores foi desenvolvida por economistas e administradores. Ela é uma combinação de cautela, prevenção e planejamento. E quem não a tomou, ainda está em tempo.

Com a vacina em nosso organismo somos motivados a nos planejarmos financeiramente. E isso não é algo complexo, mas se torna pesado para empreendedores que são como a banda de uma pessoa só. Microempresários sabem exatamente o que é 'trocar o pneu do carro em movimento', ou seja, prospectar, vender, executar, entregar, tudo ao mesmo tempo, e muitas vezes o gerenciamento financeiro acaba ficando em segundo plano.

Ao dedicarmos um tempo para avaliar e projetar a saúde econômica da empresa passamos a ter um controle maior sobre os nossos serviços, nossas capacidades e nosso futuro em um curto prazo. Afinal, saber o que vai acontecer nos próximos 180 dias, ao menos dentro do próprio negócio, é um grande trunfo num momento como esse. E o planejamento é que vai permitir negociar com clientes que pedirem para atrasar parcelas porque venderam menos em virtude de terem os estabelecimentos fechados, por exemplo.

O resguardo, que foi recomendado pela OMS para a população, também é uma palavra que passa a ocupar o vocabulário dos vacinados economicamente. Nas empresas, ele se dá por meio de poupanças, aplicações, ativos de liquidez imediata. Resguardar-se financeiramente, ter uma reserva de caixa para cobrir os dias, semanas ou meses parados, é algo que o brasileiro não costuma fazer, nem na economia doméstica, menos frequente ainda nos pequenos negócios. 

Sou vacinada em crises econômicas, não tanto a ponto de revelar aqui a minha idade na época em a inflação fazia os preços mudarem a cada hora na gôndola do supermercado. Mas, aprendi ouvindo empresários com quem trabalhei, lendo sobre economia, administração e gestão, que ter essa reserva é mais que fundamental. Ela é salutar e dá, a nós empresários e empresárias, a possibilidade de dormirmos com mais tranquilidade nesses dias nebulosos e a nos concentrarmos no que realmente é fundamental: continuar prestando serviços. 

As sábias avós e bisavós, que passaram pelas duas grandes guerras mundiais, sempre diziam: "quem guarda, sempre tem". E num momento destes, temos que ouvi-las e agradecer por esse conselho. Essa é a hora de usar aquele pé de meia, que seria para comprar equipamentos novos, trocar a sala comercial, ou fazer um grande investimento na empresa, para permitir que ela sobreviva. 

E as avós sempre diziam: "tudo passa". E essa pandemia também passará.

Precisamos, nesse momento, ter consciência de que estamos aprendendo algo, de maneira forçada, sim, mas um ensinamento fundamental e prático para a vida de nossos negócios: prever e antecipar. 

Se servir, preparei algumas dicas reunidas durante a minha trajetória empresarial e que acredito possam ajudar a acalmar, especialmente, aqueles que estão começando a empreender e que se veem confusos diante desse cenário. 

Se não servir, pelos menos pude conversar com você por alguns minutos. 

Vacina grátis:

- Separe finanças pessoais das empresariais. Para quem é MEI ou freelancer esse pode ser um procedimento difícil de executar, mas extremamente necessário, pois um reflete diretamente no outro. A poupança é um meio fácil e sem custo de separar esses recursos;

- Entenda e domine o financeiro do seu negócio. Se for necessário, invista na contratação de um profissional especializado para ajudar na forma como o serviço deve ser cobrado, no entendimento sobre capital de giro, na elaboração de controles e indicadores específicos para o seu negócio;

- Mantenha os controles financeiros em dia, pois dessa forma você irá perceber rapidamente se a curto e médio prazo haverá quebra ou excedente no seu fluxo de caixa, podendo agir antecipadamente;

- Faça projeções periódicas dos recebíveis e dos gastos para saber, por exemplo, que dali a seis meses poderá haver quebra no fluxo de caixa se não entrarem novos contratos, e assim saberá quando deverá concentrar esforços para a prospecção e vendas a fim de evitar isso;

- Faça sempre um esforço de reserva financeira. Defina um valor fixo para a antecipação mensal de lucros e se houver excedente, aplique para que esse valor possa no futuro servir como reserva em caso de crise, ou como valor para um investimento maior no seu negócio que pode ser a compra de um equipamento caro, aquisição de um veículo ou de um imóvel;

- Aproveite o tempo de escassez para colocar em dia cronogramas atrasados, se dedicar a uma formação que avalia necessária para melhorar seu desempenho na gestão, adiantar trabalhos, atualizar controles; 

- Tenha sempre o olhar no futuro seja para planejar o crescimento, seja para gerenciar uma crise. Não se apavore, não se desespere. A melhor forma de estar preparado é estar atento constantemente. Crises vêm e vão, o importante é estarmos preparados para enfrentá-la para não sucumbirmos e podermos dar seguimento a nossas empresas que são fundamentais para o desenvolvimento econômico do país. 

Maribel Lindenau é diretora de Gestão e Relacionamento da Palavra Bordada.

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