Vinte e vírgula

Por Gabriel Araujo, para Coletiva.net

 

Em uma hipotética enquete que questione o sinal de pontuação mais bonito da língua portuguesa, a vírgula tem meu voto e minha torcida. Em sua humildade, a vírgula sabe ser bela mesmo na inexistência. Não precisa da consulta ao relógio para entender a hora de sair de cena. Na contramão, ironicamente, sua presença é uma imposição, e sua ausência, via de regra, se faz notória. Experimente ler a frase anterior sem nenhuma delas e perceba a falta que fazem. É por suas características e representações nas comparações com os demais que, para mim, a vírgula vence todos eles.

Os parênteses, coitados, perdem de xeque-mate na largada ao serem facilmente trocados por elas (as vírgulas).

A exclamação, quando não demonstra excessos, soa autoritária, tem um ar de arrogância. Categórica. O fim de qualquer discussão. É o socorro de quem só consegue ganhar no grito. "Saia daqui, ponto final, nessa frase eu entro bem, seu autor se parece comigo!". Dentre todos os gêneros textuais, é no poema o seu uso mais interessante. Quando se tem argumento, sua inutilidade fica evidente.

As aspas couberam bem no recurso acima. Têm relevância em linhas literárias e textos jornalísticos ao representarem a fala da fonte que valida a apuração, sempre alguém importante. Nos diálogos, podem ser trocadas pelo travessão, que, por sua vez, não serve para muito além do que sinalizar a resenha entre personagens.

As reticências até têm um certo charme... mas menos na escrita e mais na conversa de um flerte, quando o beijo é a resposta para o que se deixa no ar.

Falando em respostas, nutro apreço à interrogação. Ela carrega consigo o questionamento, a dúvida e a provocação da pergunta retórica. Pode ser tanto a sabedoria de quem prefere não ter certeza de nada quanto a pureza, a ingenuidade e a ignorância de outros. Afinal, quando o poder da resposta está com alguém de más intenções, não se trata de estrago feito?

Os dois-pontos caracterizam-se por anteceder anúncios de: explicação, citação, exemplo, observação. Algumas vezes, dispensáveis, como neste caso.

O ponto e vírgula ajuda muito ao clarear enumerações com apostos. Embora bonito, não raro, é substituível por um dos dois que o compõem.

Pode-se escrever sem nenhuma das pontuações acima, mas não sem o sinal que falta na lista. É com o ponto final que a briga ganha corpo. Os dois travam bons rounds. Na obrigatoriedade, ele ganha. Ele se faz presente até nas obras de Saramago e sua forma de narrar que rendeu à nossa língua o único Nobel de Literatura. Entretanto, em algum momento, o ponto irá representar o fim, seja do livro, do filme, da série, da novela, da crônica, do artigo. Quando os fins são belos, e muitos o são, a competição acirra.

Ainda assim, fica difícil optar pela beleza do ponto final quando é maior a vontade de acreditar nos recomeços. Fica difícil optar pela sua beleza quando os finais abertos chamam mais atenção e fazem o ponto ganhar a companhia de outros dois, transformando-o em meras reticências.

A vírgula jamais será mera. Se não existe texto sem ponto, é a vírgula que lhe confere fluidez, ritmo, beleza. Uma vírgula bem posta provoca alteração de ideia. Vírgula é ressalva. Vírgula é ponderação. Vírgula é relativização. Vírgula é criatividade. Vírgula é construção. Vírgula é conexão. Vírgula é mudança.

Desde sua primeira identidade visual, a Moglia é representada, simbolicamente, por uma vírgula. Primeiro, ela apareceu em substituição ao pingo do i, de encontro ao dito popular para mostrar que em comunicação não há verdade absoluta. Agora, na nova logo da empresa, que celebra seus 20 anos de atuação no mercado, a vírgula mudou de lugar. Passou para a frente do nome, atuando como elemento conectivo da agência com clientes e demais públicos do setor, representando o cotidiano lado a lado deles.

Independentemente de onde estão, a vírgula da Moglia e todas as demais têm um significado em comum: a certeza da continuidade da história. Que venham os próximos 20,

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