Os degraus da saudade

Por Maria Luiza Antunes Moreira Doze mais sete são os degraus da escadaria do Viaduto Borges de Medeiros que nos levam até a porta …

Por Maria Luiza Antunes Moreira
Doze mais sete são os degraus da escadaria do Viaduto Borges de Medeiros que nos levam até a porta do prédio de número 915 daquela avenida. Sobe-se mais outros 12 degraus e chegamos aos elevadores que nos deixam no sétimo andar, onde fica a secretaria da Associação Riograndense de Imprensa (ARI), na sala que leva o nome de Leonor Quadros, secretária da entidade por mais de 55 anos. Este é o prédio Alberto André, conhecido como a Casa do Jornalista.
Lá pisei pela primeira vez em 1964? Fazer parte daquela entidade era como entrar num local privilegiado, onde conviviam nomes consagrados do jornalismo gaúcho. Minhas primeiras referências sobre a ARI as recebi de meu pai, Duminiense Paranhos Antunes, jornalista e historiador que possuía a Carteira de Sócio número 473 e que carregava com muito orgulho em sua lapela o distintivo com as letras ARI .
Estar ali era uma realização? O convite partira de Alberto André, presidente desde 1956, professor e diretor da Escola de Jornalismo da Pontifícia Universidade Católica (PUC), que em 1964 pedira a alguns de seus alunos organizarem o Departamento Universitário da entidade. Junto com Miron Stoffes, Salim Daou Junior, Ione Garcez Marques, Laerte Martins e Francisco Vitorino, criamos aquele Departamento, que naquele mesmo ano promoveu um Curso de Fotografia (de 31 de agosto a 4 de setembro), ministrado por João Carlos Nedel.
Aprendi a subir estes degraus muitas vezes, quando fui estagiária da Sucursal do Jornal do Brasil, por sete meses, de junho a novembro de 1965. Inicialmente a sucursal funcionou em dois pequenos apartamentos (nos fundos) do quarto andar, e depois ampliou seu espaço, instalando-se em todo o andar. Sob o comando do jornalista Lucídio Castelo Branco, convivi e aprendi muito com o Abdias Silva, o Setembrino, o Aldo. Na época, as matérias eram remetidas por malote e algumas transmitidas por telefone.
Quantas mudanças aconteceram nestes últimos anos?
Sempre sob a orientação do presidente Alberto André, diversos cursos e encontros foram realizados, alguns com o apoio da Ufrgs, como os Cursos de Alto Nível sobre Direitos Autorais (1973), Planejamento Gráfico de Jornais e Revistas (1979), Linguagem da Comunicação (1980), Ciência e Legislação da Comunicação Social (1982). Outros eventos que tiveram grande repercussão foram o Encontro Estadual de Assessorias de Comunicação Social (1983), que contou com a apoio do Governo do Estado, através da Fundação para o Desenvolvimento de Recursos Humanos, e da Famecos, como também o I Encontro Estadual de Jornalismo Cultural, que contou com a apoio da Ufrgs, PUC e Adjori. Paralelamente também foram promovidos Concursos de Fotografia sobre os temas "Tradição e Folclore do RS" e "A Criança e o Mundo da Educação", com apoio da Assessoria de Imprensa da SEC/RS.
As recordações vão surgindo? Lembro dos médicos que no mesmo prédio atendiam os associados e familiares, como o dentista Dr. Ozi Azeredo e o Dr. Waldomiro Zanette, que acompanharam o crescimento de nossos filhos.
Ahn!? Se estes degraus falassem quantas vezes sentiram os passos tranquilos de Alberto André que, sentado em sua enorme mesa (no 7º andar), recebia a todos com a maior atenção e carinho? sempre ponderado em suas decisões. Como não falar dos passos agitados de Antoninho Gonzales, que teve uma gestão marcante, mas curta, por ter falecido cedo. Também lembramos dos passos tranquilos da Dona Leonor Quadros, que deixou a advocacia para assumir a Secretaria Executiva da ARI,  conhecendo e chamando  todos pelo próprio nome. Ao lado destes presidentes, a presença de Ercy Pereira Torma será sempre lembrada como o inovador que trouxe para a entidade o Fórum das Águas, assunto que tanto preocupa nosso planeta .
Na lembrança vem também o caminhar lento de Enio Rockenbach, dos irmãos Copstein (Jayme e Rafael), que mesmo não estando presentes ultimamente sempre prestigiaram a entidade. Lembro também muitos que nos deixaram, como Antonio Carlos Porto, João Aveline, Paulo Xavier, Segundo Brasileiro Reis, Wilson Muller e, recentemente, Leila Weber.
Recordo ainda os passos de tantos outros que, aos sábados, se reuniam no Bar Social da ARI (8º andar), para confraternizar e debater com os demais colegas o rumo da imprensa com a chegada da era digital,
E, atualmente com os festejos e homenagens aos 80 anos da ARI, os mesmo degraus recebem os passos seguros do atual presidente João Batista de Melo Filho, que se desdobra para tornar o ano de 2015 marcante na história da ARI, lançando e apoiando os eventos, que contam com o apoio do Conselho Deliberativo, de Ercy Torma (presidente) e seu vice José Vieira da Cunha (nosso Vierinha), e de sua diretoria, os atuantes Antonio Goulart, João Souza, Luiz Adolfo Lino de Souza, Francisco Vitorino, Ayres Cerutti, Verdi Faccini, Thamara da Costa Pereira, Eloêmia Moraes, Glei Soares, José Nunes, Laura Gluer, Nikão Duarte, Paulo Serpa Antunes, Wilson Sierra, Vilson Romero, Mario Rocha, Luiz Carlos Vaz e a autora desta crônica, que sempre se entusiasma com tudo que se refere à ARI.
A Casa do Jornalista não é só um prédio de concreto com uma bela fachada, lá tem vida dos que lutam pela dignidade de sua profissão, pela liberdade de imprensa, que é o esteio da democracia, pois "uma não existe sem a outra".
Que os novos sócios, jovens jornalistas, subam os mesmos degraus que subo há 51 anos e tenham a mesma satisfação que tive nestes últimos anos.
Maria Luiza Antunes Moreira é jornalista, conselheira e vice-diretora de Patrimônio da ARI.

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