"Nosso desafio sempre foi mostrar o que consta nos autos", afirma jornalista do MP-RS

Cristina Oliveira contou como é o trabalho dos jornalistas da instituição nestes quase nove anos do caso Kiss

Equipe do MP-RS que atua no Foro Central de POA - Crédito: Divulgação

"Nunca paramos de cobrir e atender às demandas do caso da Boate Kiss." Assim iniciou a conversa com a coordenadora do Gabinete de Comunicação do Ministério Público do Rio Grande do Sul (MP-RS), Cristina Oliveira, que trabalha há 10 anos na instituição e a coordenadora da Assessoria de Imprensa Roberta Salinet, que atua desde 2017. Para Cristina, o maior desafio ao longo deste período foi fazer com que a verdade aparecesse, ou seja, as informações que constam no processo judicial. 

Cristina afirmou que a Kiss é o maior caso que viveu na vida profissional, mas citou a experiência do julgamento do caso Bernardo - menino de 11 anos assassinado pela madrasta em Três Passos, no norte gaúcho. Além dela, uma amiga e o pai da criança foram condenados - importante para a celeridade do trabalho da equipe de Comunicação do MP-RS. "O caso Bernardo ajudou muito a pensar esta cobertura e serviu de exemplo para vermos 'que não dá para montar tudo', não tem como deixar tudo pronto", relatou. "Cada dia de júri é diferente e a gente não sabe como vai ser. Pode ser um dia tranquilo dentro do plenário, e fora se criar fatos que repercutem para nós. É algo factual, a gente lida muito com especulação", complementou Salinet.  

A preparação para a cobertura 

O júri chegou a ser marcado antes da pandemia, em março de 2020 e, por isso, a equipe de Comunicação do MP-RS chegou a fazer reuniões e iniciar o planejamento até o surgimento da pandemia. "Começamos a nos organizar novamente dois meses antes. Foram reuniões para definir o que cada jornalista iria fazer, conversamos com os promotores que atuam no plenário - até então, a comarca de Santa Maria atuava no caso - e abordamos até a postura de cada um dos profissionais que fazem parte da equipe", contou Cristina, afirmando que zelam muito pelo respeito e cuidado até em postagens pessoais nas redes sociais. O gabinete conta com 10 jornalistas e cinco estagiários. 

Equiipe do MP-RS que trabalha no gabinete de Comunicação | Crédito: Divulgação

Organização 

As jornalistas contaram que não há uma meta a ser atingida, mas a equipe produz uma reportagem que traz os principais destaques dos depoimentos no plenário e o que ocorrerá no dia seguinte. As redes sociais também recebem atenção redobrada durante grandes coberturas "Nosso twitter é utilizado, normalmente, para replicar nossas matérias, mas em julgamentos de destaque fazemos uma atuação mais presente", afirmou a coordenadora. 

Linha do tempo 

Em razão dos frequentes esclarecimentos que as assessoras de Imprensa fizeram aos repórteres sobre a cronologia do caso da Boate Kiss, a equipe de Comunicação do MP-RS decidiu criar um hotsite, em janeiro de 2017, com todas as informações referentes ao processo. Para construir a linha do tempo, um dos promotores de Santa Maria ficou uma semana dentro do gabinete de Comunicação para, juntos, criar a cronologia. De acordo com os jornalistas da instituição, o material levou cerca de um mês para ficar pronto. 

O objetivo é ser estratégico 

Coordenadora Regional da Associação Brasileira de Comunicação Pública (ABCPública), Cristina cita como inspiração no trabalho o professor Jorge Duarte, que tem vários livros publicados e é referência em Comunicação pública: "Não adianta colocar Comunicação Estratégica no nome porque a gente só é estratégico quando realmente se coloca nesta posição, caso contrário somos só tarefeiros", contou a jornalista, que tem a frase como lema e que acredita que tem conseguido aplicá-lo dentro do MP-RS. Para ela, isso fica evidente em coberturas como o Caso Bernardo e o da Boate Kiss.

Ao ser questionada se havia um exemplo que colocasse em prática a frase citada, Cristina contou que, uma semana antes do julgamento, um veículo da Imprensa divulgou uma reportagem que trazia um parênteses citando que o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) indicava colocação de espuma na boate: Eu disse que isso não estava correto durante oito anos, eu mostrava os documentos, mas tinha uma força muito grande que relacionava o TAC com a espuma", relatou e emendou: "Tive uma conversa com o editor deste veículo e expliquei que aquilo que estava entre parênteses era muito grave e questionei qual era a fonte. A matéria também tinha outros equívocos jurídicos que eu queria de corrigir". Em resposta à Cristina, o jornalista argumentou que havia feito uma recuperação de matérias da cobertura."Não posso afirmar que tenha sido fruto dessa conversa, mas o fato é que o mesmo veículo nos solicitou cópia dos documentos e publicou uma matéria com as informações que lá estavam. Na visão de Cristina, este foi um momento de superação de um grande desafio. 

O resultado da conversa entre ela e o repórter, foi uma nova matéria com as informações corretas. Na visão de Cristina, este foi um momento de superação de um grande desafio: pela primeira vez, desde 2013, uma manchete trazia a informação de que a colocação da espuma não constava no TAC. "Estávamos em um evento e os promotores vieram nos falar 'como o veículo se deu conta disso?'. Explicamos que foi um trabalho árduo", disse Salinet, ao que Cristina rapidamente contribuiu: "Aí tu te provas estratégico". 

Trabalho para além do júri 

Engana-se quem pensa que a equipe de Comunicação do MP-RS está com as atenções voltadas ao julgamento da Boate Kiss. O trabalho no gabinete é intenso e não para, conforme comentou Salinet: "Tivemos duas operações durante o júri, uma de combustíveis em POA e outra sobre suposta ação criminosa de uma prefeitura. Temos o prêmio de Jornalismo, a festa dos Acolhidos e todos os outros atendimentos, inclusive julgamentos nesse mesmo período."

Comentários