Em entrevista com Ingrid Oliveira, Coletiva.net destaca o papel da produção em TV

Ela não aparece na telinha, mas "o produtor faz um rodízio com o repórter para poder cobrir tudo", contou a produtora de rede do SBT-RS

Ingrid fica cerca de 10 horas por dia no Foro - Crédito: Coletiva.net

Há quatro anos no SBT-RS, a produtora de TV da rede, que atende o telejornal 'SBT Brasil' em Porto Alegre, participou de relevantes coberturas jornalísticas como o julgamento do ex-presidente Lula e do caso Bernardo. Com a proximidade do júri da Boate Kiss, a jornalista, que faz pós-graduação em Direito Penal, chamou para si a coordenação dos trabalhos. "É uma cobertura histórica, desde o início eu disse que queria estar aqui. Começamos a trabalhar no caso um mês antes, com a produção de reportagens com sobreviventes, réus e familiares", comentou. O produtor não aparece na telinha, mas "faz um rodízio de trabalho com o repórter" quando está no centro da notícia. 

Ingrid contou que se preparou para a missão ao ler a denúncia do Ministério Público do Rio Grande do Sul (MP-RS), e organizar reuniões preparatórias junto à equipe de jornalistas da emissora. "O volume de informações era muito grande e sabíamos que tínhamos que estar bem preparados. A defesa e os promotores viriam com suas teses e tínhamos que ter em mente quem eram as pessoas citadas. Não dava para confiar na memória", alertou a comunicadora, que buscou o depoimento em juízo de cada um dos réus. 

Apostila

Dedicada quando o assunto é a preparação para uma grande cobertura e o estudo, Ingrid contou que ela mesma preparou a apostila, com cerca de 50 páginas, que traz um resumo para o caso, denominada "a bíblia do julgamento", de acordo com a jornalista. O material de apoio é usado por toda a equipe, os que estão no Foro e quem atua na redação. Ela, inclusive, comentou que já havia produzido conteúdo  semelhante no Caso Bernardo e no julgamento do ex-presidente Lula. "Às vezes precisam saber 'quem são os denunciados do MP?', eu respondo: está lá na apostila. Eu fiz um resumão do processo, principais contatos, linha do tempo, principalmente para quem está na redação porque também precisa ter esse suporte", concluiu. 

"A bíblia do julgamento", apostila de 50 páginas produzida por Ingrid Olveira | Crédito: Divulgação

Lado humano 

Ao ser questionada sobre como faz para separar o lado humano do profissional, a produtora foi direta: "não faz. Acho que não deve separar". Ela citou o depoimento de um dos sobreviventes, Delvani Brondani Rosso, que durou cerca de 40 minutos, e contou que se emocionou várias vezes durante a oitiva. "Eu me recuperava de uma fala e vinha outra. Eu falei pra mim mesma: eu vou me permitir sentir isso. Não tem como separar o lado humano e a gente nem deve perder isso. Mais do que réus, sobreviventes e pais de vítimas, estamos lidando com pessoas, temos que ter um pouco dessa empatia e respeitar esses momentos", relatou. 

A produção

O trabalho do produtor de TV não aparece na telinha, mas é o jornalista que trabalha atrás das câmeras que faz a notícia nascer, marca a entrevista, apura e checa informações. Pode-se dizer que a produção é peça importante na grande engrenagem de uma equipe de televisão. "Eu bati pé e disse que tinha que ter uma produtora no Foro. Tem que atender os telejornais e quando os repórteres vão para o link ao vivo, ficam plugados, eu que vou atrás das informações, que continuo acompanhando e posiciono o entrevistado", relatou. 

Carga horária

"Quando a gente abraça uma cobertura,a  gente fica fominha e quer ficar o tempo todo, mas não dá. Além do lado humano, tem o físico, o mental, não tem como. Eu chego aqui no final da manhã e fico até depois do 'SBT Brasil'", contou Ingrid sobre a carga horária durante o período do julgamento. O segredo para estar preparada para o dia seguinte é se desconectar de notícias e ficar longe do celular ao deixar o Foro Central. 

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