Invisibilidade: Djamila Pereira traz conversa sobre o feminismo negro do Sul Global

Filósofa e escritora do 'Pequeno Manual Antirracista' esteve presente no PO2020

Djamila Pereira conversando com os hosts Gustavo Borba e Luciana Bazanella - Crédito: Reprodução/POA2020

O livro 'Pequeno Manual Antirracista', publicado em 2019, acabou viralizando em posts nas redes sociais neste ano, principalmente, depois de diversos atos violentos contra negros, que aconteceram em 2020. A partir do movimento #blacklivesmatter a autora deste livro, Djamila Pereira, foi amplamente citada em conversas entre amigos, colegas e família, pois se passou a pesquisar mais sobre a temática, com o intuito de se ter mais empatia e conhecimento da luta negra. E, é exatamente ela, que também é mestre em Filosofia Política pela Unifesp e colunista do jornal Folha de S.Paulo, que esteve no POA2020, para falar sobre 'Feminismo Negro do Sul Global'.

Ao dar início à conversa, Djamila citou diversas autoras negras como referência para a temática. O primeiro nome é de Kimberlé Crenshaw, norte-americana que criou o termo 'interseccionalidade' - análise de como raça, gênero e classe se interseccionam e geram diferentes formas de opressão. "Ela traz então como não podemos universalizar gênero, na mulher branca, ou raça, em um homem negro, por exemplo", explica. 

Além da estadunidense, quem também pesquisou sobre esse assunto foi a brasileira Lélia Gonzalez. A teórica baiana Carla Akotirene, inclusive, traz uma pesquisa que comprova isso. Contudo, por estar mais ao Sul global, suas ideias e conceitos não chegaram a ser reconhecidos mundialmente. 

Segundo Djamila, dentre tantos elementos importantes que Lélia estudou e revelou, está o pensamento de que se deve reverenciar as estratégias das mulheres negras. "Um ponto crucial que ela dizia era que o nosso legado não é somente de dor, mas de luta e resistência", citou. Então, para a escritora, é muito importante olhar para as histórias pela perspectiva das estratégias de lutas e, não somente, por meio do olhar de vítima de uma opressão. 

Do ponto de vista da Comunicação, Djamila contou que Lélia se rebelou contra a gramática normativa em suas publicações. Isto porque deu visibilidade ao legado linguísticos de povos que foram escravizados. Os trabalhos e obras dela também têm como proposta a descolonização do conhecimento e refutação de uma neutralidade epistemológica - teoria do conhecimento cujo objeto de análise é a relação entre o sujeito, ser pensante, e o objeto, ser inerte. 

Ao finalizar a sua fala, Djamila abordou que as políticas de tradução também são coloniais, uma vez que as produções do sul global não é transcrito da mesma forma do que é feito no norte global. "Temos muita dependência do que vem da Europa e dos Estados Unidos e, muitas vezes, não valorizamos o que é produzido aqui, no sul global e no próprio Brasil", salientou. 

Sobre o POA2020

Com o apoio da Do it, Coletiva.net marca presença on-line no POA2020, cujo propósito é debater a produção de sentido na exponencialidade das transformações provocadas pela tecnologia e pelos modelos de inovação. A cobertura do evento, com transmissão virtual, é produzida pelas jornalistas Cleidi Pereira, Nathália Ely e Patrícia Lapuente. A iniciativa é uma realização da Aliança para Inovação, do Pacto Alegre e do Porto Alegre Inquieta . 

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