Para a história: imprensa registra o fim do maior julgamento do judiciário gaúcho

Dezenas de jornalistas disputavam espaço para captar a emoção dos familiares e a manifestação do juiz Orlando Faccini Neto

Jornalistas disputam espaço para registrar fim do julgamento histórico - Crédito: Coletiva.net

Pela primeira vez nesses 10 dias de julgamento, a sala de imprensa ficou vazia. Dezenas de jornalistas, que acompanham a cobertura desde o início, disputavam espaço dentro do plenário, onde o juiz Orlando Faccini Neto proferia a sentença. E logo no início do discurso, ele reconheceu a importância do trabalho da imprensa do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJ-RS) e dos demais veículos de comunicação. Além dos profissionais da Comunicação, familiares e sobreviventes ouviam atentamente o presidente do júri. 

Depois que o magistrado condenou Elissandro Spohr a 22 anos e seis meses de prisão; Mauro Hoffmann a 19 anos e seis meses; Marcelo de Jesus dos Santos e Luciano Bonilha Leão com 18 anos cada, os profissionais da imprensa se aglomeram ao redor dos familiares e sobreviventes, que fizeram uma roda e cada um deles dizia em voz alta o nome dos filhos que morreram no incêndio. Em razão de um habeas corpus preventivo, os réus não saíram presos do Foro Central I de Porto Alegre. A decisão da condenação e as penas ainda podem ser recorridas. 

Outro momento de aglomeração entre os jornalistas, que estavam todos de máscara, foi quando a promotora, Lúcia Helena Callegari, deslocou-se em direção aos familiares e foi cercada por repórteres, cinegrafistas e fotógrafos. Muitos desses  últimos profissionais se empoleiraram em cima de cadeiras em busca da melhor imagem. Muitos jornalistas estendiam o braço com o microfone em mãos e com os olhos marejados diante da comoção do momento. 

Relevância da imprensa para a história

Peça importante pela representatividade no que se refere a cobrança de justiça e a importância de não deixar um fato como o caso da boate cair no esquecimento, a jornalista Daniela Arbex teve um trecho de seu livro lido pelo juiz durante a sentença. Mas não foi só na literatura que a profissional foi esteio às famílias. Ela esteve ao lado de pais e mães que padeceram ao longo desses quase nove anos. 

Em sua leitura da sentença, o juiz disse: "Menciono aqui o livro de Daniela Arbex. Falo sobre a idade dos mortos, na sua grande maioria pessoas na faixa dos seus 20 e poucos anos. (...) Daniela Arbex indica tratar de mais de nove mil anos de vida perdidos", citou o magistrado. 

Ouvida pela equipe de Coletiva.net após o fim do julgamento, a jornalista mineira comentou: "Isso só confirma o papel do Jornalismo investigativo na construção da memória coletiva do Brasil. Então, quando a gente constrói essa memória, não só resgatamos uma história, como permitimos que novas gerações conheçam essa história e aprendam com os erros do passado para que não cometam eles no futuro."

A notícia não para

A sala da imprensa começava a ficar movimentada novamente, quando Ricardo Giusti grita impressionado com a notícia divulgada pelo repórter do SBT-RS, Lucas Abate: "Cancelaram o julgamento do pai do menino Bernardo, Leandro Boldrini". A notícia causou burburinho entre os jornalistas, que devem ter se imaginado novamente cobrindo o tribunal do júri. 

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