Veículos nacionais têm cobertura intensa no Foro Central

Coletiva.net conversou com repórteres da CNN, Folha de S. Paulo, R7 e Uol

Bruna Ostermann, Fabíola Perez, Fernanda Canofre e Hygino Vasconcellos - Divulgação/Coletiva.net

O julgamento do caso da Boate Kiss, que está no seu segundo dia, em Porto Alegre, conta com mais de 40 veículos credenciados. Entre eles, alguns nacionais, como CNN, Folha de S. Paulo, R7 (do Grupo Record) e Uol. Coletiva.net e  Coletiva.rádio conversaram com repórteres das empresas de mídia, para saber como está sendo a cobertura deles, a preparação, suas opiniões e o sentimento de acompanharem um dos maiores júris da história do Brasil.

Confira como está o trabalho destes veículos:

Bruna Ostermann - CNN

Muitos foram os júris que Bruna Ostermann, correspondente da CNN, cobriu, incluindo o do caso do menino Bernardo - o qual ela considerava "o mais pesado" até ontem. Durante o trabalho no Foro Central, comentou com uma colega de emissora que, naquela ocasião, quando voltou de Três Passos e chegou em casa, começou a chorar. "Só de lembrar, me emociono de novo", disse, com a voz embargada.

A repórter comentou ainda que enquanto trabalha é como se desligasse dos sentimentos, mas quando acaba, eles voltam. Grávida de cinco meses, ela sabe que a gestação a deixa mais sensível, mas se coloca com frequência no lugar dos pais e familiares que estão revivendo a dor. "Exatamente por isso, a imprensa precisa ser muito responsável, para não cair no sensacionalismo, pois estamos falando de, pelo menos, 242 pessoas e mais tantas outras que foram marcadas pelas mortes."

Ela entende que esse limite é complicado, mas é necessário encontrar o equilíbrio para levar à sociedade a importância dessa pauta. E resumiu: "O objetivo de todos que estão aqui - imprensa, testemunhas, familiares e etc - é de que algo assim não aconteça nunca mais".

Fabíola Perez - Portal R7

Vinda de São Paulo especialmente para o julgamento, Fabíola Perez, que atua pelo Portal R7, do Grupo Record, chegou em Porto Alegre na véspera do júri - sendo sua primeira vez na capital gaúcha. O trabalho, segundo ela, "tem sido intenso e emocionante". Na chegada ao Foro Central percebeu a dimensão do que viria, pois havia muitos profissionais da imprensa.

Basicamente, a preparação envolveu a produção de matérias já em São Paulo, além de conversas com especialistas em diversas áreas do conhecimento. Chegou no local às 8h, com a missão de entrevistar todas as partes envolvidas. "Tudo é mais intenso, pois estou sozinha representando o R7", disse, ao relacionar seu trabalho ao que se chama de profissional multimídia, pois está produzindo textos, fotos e vídeos. "Uma experiência muito bacana. Já acompanhei outros julgamentos em São Paulo, mas nessas dimensões é o primeiro."

Ela garantiu que levará muitos aprendizados desta experiência. Na bagagem, tem a cobertura da morte da vereadora Marielle Franco, no Rio de Janeiro, mas acredita que este da Kiss tem um diferencial importante: o tempo de duração. "Isso fará com que todo mundo sinta o peso do trabalho. O resultado disso vai ser de muito aprendizado para todos, inclusive para nós, da imprensa." 

Fernanda Canofre - Folha de S. Paulo

Pelo jornal Folha de S. Paulo, a correspondente Fernanda Canofre foi com uma equipe para Santa Maria cerca de duas semanas antes do julgamento começar, com o intuito de entender como a cidade tem vivido nesses quase nove anos. "Conversamos com familiares, sobreviventes, vítimas em geral, e também com moradores para entender o clima da cidade", relatou ela à reportagem.

Para a jornalista, o grande desafio da imprensa nacional é contextualizar e ajudar as pessoas a lembrarem um pouco do que foi o caso, "pois, desde a Kiss, o País teve outras grandes tragédias, como foi Mariana e Brumadinho, então, alguns detalhes talvez tenham ficado esquecidos". Pessoalmente, Fernanda sabe que repórteres tentam manter a objetividade, pois não são apenas dois lados da tragédia, mas vários. Porém, num processo como esse, o emocional aparece muito, já que "jornalista é ser humano, antes de tudo".

Ela destacou ainda que todos os que estão presentes no Foro enfrentam questões emotivas, inclusive os advogados de defesa sabem disso, mas que, como imprensa, o papel é mostrar também a parte técnica. "Nosso trabalho é tentar reportar esse aspecto, sem deixar de olhar para as pessoas que foram atingidas", finalizou.

Hygino Vasconcellos - Uol

Natural de Santa Maria, Hygino Vasconcellos mora, atualmente, em Camboriú, Santa Catarina. Chegou em Porto Alegre no domingo, 28 de novembro. Na conversa com o portal e a rádio, o jornalista contou que já tinha feito outras coberturas de júri, mas nenhuma dessa dimensão, "pois foi um crime que chocou muito". Foram cerca de seis meses de preparação antes de chegar ao julgamento e o trabalho se intensificou na última semana. Conversou com vítimas e familiares, com o objetivo de tentar explicar bem nas matérias o cenário de como funciona um tribunal de júri.

Hygino perdeu uma prima no incêndio de 27 de janeiro de 2013, por isso entende que também foi atingido pela tragédia da Boate Kiss. "Na época, trabalhava na Região Metropolitana de Porto Alegre e não cobriu o caso como jornalista, mas tive um envolvimento emocional, meu pai foi para Santa Maria na época e permaneceu muito envolvido", relatou ele.

Desde sempre o jornalista sabia que seria uma cobertura intensa, de muitas horas de trabalho, mas sabe da importância de permanecer lá até o final. "É nosso papel levar voz às histórias que ouvimos aqui para o restante do Brasil", avaliou.

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