A censura nas redes sociais
Por Marino Boeira

As redes sociais são hoje o último refúgio democrático no mundo moderno. Nelas, cada um tem a liberdade de escrever tudo que pensa, mesmo correndo o risco de ser mais um dos imbecis do que falou Umberto Eco quando disse que eles reproduzem apenas as conversas que antes só eram permitidas nos bares.
O problema então não está nas redes em si, mas nos que as usam. No Facebook, por exemplo, eu me esforço para propor discussões sobre política, cinema e literatura principalmente, sem esquecer o futebol nosso de cada dia. Atualmente, minha luta é para mostrar quanto o governo Lula serve aos interesses da grande burguesia representada pelas frações comercial, bancária e latifundiária.
Poucas respostas aos meus questionamentos trazem alguns substantivos que mereçam discussões. O que sobram são os adjetivos, onde o mais recorrente é o de "bolsonarista", embora outro dia alguém me agraciou com o velho "lacerdista". Ninguém está disposto a considerar as nuances que aproximam hoje perigosamente ditaduras e democracias.
As ditaduras fascistas tradicionais de Mussolini, Franco e Salazar não existem mais e muito menos o nazismo de Hitler. Todos os regimes se apresentam hoje como democracias, mas ou menos autoritárias dependendo de quem as analisa. No caso brasileiro, a julgar pelo que dizem os adeptos de Lula, vivemos um modelo ainda mais aperfeiçoado, o chamado Estado Democrático de Direito.
Segundo leio nas postagens do Facebook, ele vive ameaçado por um grande vilão - o Fascismo - mesmo que ele tenha sido um fenômeno tipicamente europeu e um projeto de governo só possível onde houver uma burguesia forte e independente, o que não é o caso do Brasil, onde sua burguesia é dependente do imperialismo norte-americano.
A grande contradição dessa nossa democracia é que, para defendê-la. se usa uma arma, que os velhos manuais diziam ser um instrumento apenas das ditaduras, a censura. É a censura diária feita pelos grandes meios de comunicação, principalmente os jornais, o que é até compreensível na medida que as mídias sociais são suas concorrentes e principalmente do Judiciário. Nesse caso o grande agente é Supremo Tribunal Federal e especificamente o ministro Alexandre de Moraes que desencadeou uma grande ofensiva contra vários sites, inclusive os de esquerda como o do PCO, sob o pretexto de impedir as chamadas fake news. Isso lembra aquele velho ditado de que na ânsia da limpeza, pode se jogar fora a água suja da bacia, mas também a criança que era banhada.