Campeões de audiência

Por Flávio Dutra

Acho que já estou ficando chato na minha cruzada contra os vícios de linguagem dos repórteres de rádio e TV e mesmo de alguns âncoras. Não tenho culpa se a audição é o meu sentido mais apurado e a repetição de alguns tiques incomodem este velho e cada vez mais rabugento jornalista. Outro dia postei nas redes sociais que o que mais tem aparecido, no momento, entre a garotada da reportagem é o tal de "aí", muleta usada às pencas, sobretudo, nas entradas ao vivo. O Alex Gusmão, experiente repórter televisivo da Band em Brasília comparou o "aí" a uma espécie de virgula no texto. Uma repetitiva vírgula mal colocada, acrescento eu.

Nos comentários da postagem, a maioria de jornalistas veteranos, surgiram críticas a outro campeão de audiência, o "né", também excessivo até mesmo entre afamadas ancoragens. A Ligia Tricot, jornalista de TV de reconhecida experiência, lembra ainda o "qual que é", que já mereceu até uma coluna deste que vos fala, intitulada 'Um quê a mais'. Registo mais os modismos do "por conta de" e do onipresente "desconforto muscular" da meninada do esporte, sem contar o "a gente", o "bacana" e um novíssimo e acariocado "cê" substituindo o você.

Já confessei em outra crônica que também tenho um cacoete, do qual não consigo me livrar, um "tá" que parece querer validar o que acabou de ser dito, mas como não sou comunicador de vídeo ou microfone, estou perdoado, tá. Também é verdade que vivo me policiando, tá.

Será que a os jovens e promissores repórteres que acompanho tem feito esse exercício de humildade para limpar dos seus improvisos os "aís" e os "nés"?  A empreitada cabe também aos editores do material dessa turma. Atentos e exigentes, eles, os editores, vão contribuir para que meus já sexagenários ouvidos sejam menos incomodados. Antecipo agradecimentos.

Autor
Flávio Dutra, porto-alegrense desde 1950, é formado em Comunicação Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), com especialização em Jornalismo Empresarial e Comunicação Digital. Em mais de 40 anos de carreira, atuou nos principais jornais e veículos eletrônicos do Rio Grande do Sul e em campanhas políticas. Coordenou coberturas jornalísticas nacionais e internacionais, especialmente na área esportiva, da qual participou por mais de 25 anos. Presidiu a Fundação Cultural Piratini (TVE e FM Cultura), foi secretário de Comunicação do Governo do Estado e da Prefeitura de Porto Alegre, superintendente de Comunicação e Cultura da Assembleia Legislativa do RS e assessor no Senado. Autor dos livros 'Crônicas da Mesa ao Lado', 'A Maldição de Eros e outras histórias', 'Quando eu Fiz 69' e 'Agora Já Posso Revelar', integrou a coletânea 'DezMiolados' e 'Todos Por Um' e foi coautor com Indaiá Dillenburg de 'Dueto - a dois é sempre melhor', de 'Confraria 1523 - uma história de parceria e bom humor' e de 'G.E.Tupi - sonhos de guri e outras histórias de Petrópolis'. E-mail para contato: [email protected]

Comentários