TVE, uma história real (II)

Por José Antonio Vieira da Cunha, para Coletiva.net

Rolou emoção, algumas lágrimas e muita nostalgia terça-feira passada, quando a TVE convidou funcionários, ex-funcionários e ex-dirigentes para fazer o registro animado e merecido de seus 50 anos de história. Como presidente no período entre 1995 e 1999, me senti em casa e mesmo feliz com as dezenas de reencontros, alguns inesperados, quase todos emotivos, que a festa ofereceu. Meu carinho para com a TVE e a FM Cultura segue o mesmo daqueles anos, quanto mais não seja porque - e vai uma ponta de orgulho na sequência - dezenas de funcionários e colaboradores destas emissoras ainda hoje são espontâneos ao exaltar nossa diretoria como uma das positivamente mais marcantes que passaram ali pela Fundação TVE.

Ainda hoje este reconhecimento ressurge e entusiasma, e se deve a uma gestão que procurou ser sempre assertiva e propositiva. Tanta coisa se fez: a modernização do estatuto com a implantação de um Conselho Consultivo para zelar pela qualidade da programação; a implantação de um programa de qualidade cujos resultados positivos renderam aplausos unânimes porque organizou de fato a face operacional da casa; a produção e criação de programas como o Frente a Frente; e o aprimoramento de atrações consolidadas, como o Estação Cultura, o Radar e o Pandorga.

Na questão material, não há como deixar passar em branco duas realizações. Uma delas é a instalação do sistema de transmissão via satélite, graças ao qual o sinal da emissora chegava com uma qualidade de imagem nota dez em todas as suas retransmissoras. Com esta tecnologia pioneira na televisão do Rio Grande do Sul, o sistema de distribuição do sinal consolidou a TVE como a segunda maior rede do Estado. Outra ação foi a reforma total do estúdio principal, que entregou cenários, iluminação, telas, sistema de refrigeração, tudo novo. Com seus 360 metros quadrados, era em março de 1998 o estúdio mais moderno da região sul do país.

Positiva também foi a decisão de doar as peças do acervo da extinta TV Piratini, que integrava a rede Diários e Emissoras Associados, comandada pelo lendário Assis Chateaubriand. Inaugurada em dezembro de 1959, fora um marco na comunicação gaúcha, como a primeira emissora instalada no Rio Grande. Em certo momento de sua vida, a TVE e a FM Cultura passaram a ter endereço fixo no prédio da TV Piratini, herdando junto com a locação praticamente todos os equipamentos da velha emissora. Exatos 38 anos depois, este material foi entregue aos cuidados do Museu de Comunicação Hipólito José da Costa. Para lá seguiram as câmeras originais de estúdio, geradoras de imagens em P&B, unidades de controle de câmera, telecine e projetores de slide e de filme, entre outras dezenas de aparelhos e equipamentos que fizeram a história da televisão no Rio Grande do Sul. Certamente boa parte deste material está integrando a exposição "TVE 50 anos", que aguarda sua visita ali no Museu de Comunicação.

Bem, a alteração no estatuto possibilitou também a criação da inédita Diretoria de Marketing, que ajudou a desanuviar a sempre escassa disponibilidade de recursos. Em 1995, a TVE ocupava o segundo lugar em dependência de verbas do Tesouro, e era uma das sete fundações estaduais que não apresentavam receitas próprias. Com a ação da diretoria de MKT, em 1997 a TVE arrecadou R$ 985 mil. O valor pode soar insignificante hoje, mas a compreensão sobre sua grandeza muda se considerarmos que até dois anos antes a receita era zero, e que graças a isso a Fundação teve pela primeira vez recurso suficiente para pagar mais de um mês de suas despesas totais. Outra consequência muito positiva: pela primeira vez desde sua criação, a Fundação Cultural Piratini trocou de ano, e de mandato, com recursos disponíveis. Passei o cargo para o sucessor com R$ 400 mil no caixa.

E há incontáveis avanços e inovações no estilo, na programação e no espírito da equipe. Tantas são estas riquezas que o registro delas se fará na próxima coluna aqui.

Autor
José Antonio Vieira da Cunha atuou e dirigiu os principais veículos de Comunicação do Estado, da extinta Folha da Manhã à Coletiva Comunicação e à agência Moove. Entre eles estão a RBS TV, o Coojornal e sua Cooperativa dos Jornalistas de Porto Alegre, da qual foi um dos fundadores e seu primeiro presidente, o Jornal do Povo, de Cachoeira do Sul, a Revista Amanhã e o Correio do Povo, onde foi editor e secretário de Redação. Ainda tem duas passagens importantes na área pública: foi secretário de Comunicação do governo do Estado (1987 a 1989) e presidente da TVE (1995 a 1999). Casado há 50 anos com Eliete Vieira da Cunha, é pai de Rodrigo e Bruno e tem quatro netos. E-mail para contato: [email protected]

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