Chico Buarque é o sinônimo perfeito de felicidade

Por Márcia Martins

No Correio do Povo, o jornalista Luiz Gonzaga Lopes escreveu, na edição de sábado, 18, uma minuciosa e completa análise do show 'Caravanas', de Chico Buarque de Hollanda, após ver a estreia, um dia antes, na sexta, 17, no Auditório Araújo Vianna. A perfeição do texto do colega no Correio é coroada ainda com o título 'Um Chico Buarque cada vez mais eterno'. Na edição digital de GaúchaZH, no dia 18, atualizada no dia 19, às 17h10, o colunista Juarez Fonseca, que tem uma trajetória conhecida e irrepreensível de crítico musical, disse que "Chico Buarque dispensa palavras, pois fala por suas canções".

Pois eu, enquanto fã de carteirinha do Chico e jornalista que aprecia um bom texto, análises embasadas e críticas de quem é especialista em Música Popular Brasileira (MPB), concordo em tudo com as percepções de Luiz Gonzaga Lopes e de Juarez Fonseca. E, de antemão, antes que alguém diga que estou me metendo onde não deveria já aviso: não sou expert em MPB, nem entendo nadinha de bemóis e sustenidos e jamais me atreveria a escrever 'jornalisticamente' uma crítica de show. E, em se tratando de Chico Buarque então, isto está totalmente fora de qualquer hipótese.

Mas como tiete enlouquecida do músico filho de pai paulista, avô pernambucano, bisavô mineiro e tataravô baiano (música Paratodos) posso apenas dizer após ficar totalmente inebriada com o show que assisti no sábado, 18, que Chico Buarque é o sinônimo perfeito de felicidade. Não contei, mas o Luiz Gonzaga Lopes disse, e eu acredito, que foram 30 músicas e algo em torno de 1h43 de duração. Para mim, ele podia estar cantando até agora. Eu não me cansaria e nem deixaria o Araújo Vianna. Nem por frio, nem por fome, nem por nada deste mundo. Aliás, como escreveu o Juarez Fonseca, "se Chico seguisse, as pessoas não arredariam pé".

Como uma chicólatra assumida, não é o primeiro show do poeta/músico/cantor, compositor/escritor/tudo de bom que vejo. Lembro com perfeição de dois anteriores a este. Um, em 2007, no Teatro do Sesi, que era para o lançamento do CD Carioca, presente da minha amiga Marcela Duarte, companheira no show. Entre tantas lindezas que ele cantou naquele show, recordo muito de alguns versos de 'Ela Faz Cinema': "quando ela chora, não sei se é dos olhos para fora, não sei do que ri, eu não sei se ela agora está fora de si, ou se é o estilo de uma grande dama quando me encara e desata os cabelos...". Confesso que saí do show completamente fora de mim. Encantada. Entorpecida.

Pois, em novembro de 2011, acompanhada de minha filha Gabriela, que tem se revelado uma excelente parceira quando o assunto é MPB, fui ao mesmo Teatro do Sesi, desta vez para ver o show 'Na Carreira'. Novamente, Chico reforçou possuir todas as qualidades que o elevam à potência máxima e que o faz conquistar legiões de fãs de todas as idades e sexos. Neste show, em especial, a sua interpretação da música 'Teresinha' foi de arrepiar e que me marcou para sempre. Ao pronunciar "antes que eu dissesse não, ele chegou sorrateiro e se instalou feito um posseiro dentro do meu coração", Chico emitiu uma mistura de súplica, choro, agradecimento, satisfação que emocionou o teatro inteiro. Se alguém duvida, olhe no Youtube.

De 'Caravanas', no show que teve a companhia da amiga fiel Lili, sai sem a condição de dizer qual a melhor das músicas cantadas. Sem o mínimo discernimento para apontar em qual momento ele se entregou mais. Sem poder precisar em qual das apresentações a plateia delirou de vez. Tudo em 'Caravanas' foi lindo. Tudo em 'Caravanas' foi um espetáculo. Tudo em 'Caravanas' é indescritível. Por isso, transmito meus parabéns aos colegas jornalistas Luiz Gonzaga Lopes e Juarez Fonseca, que conseguiram, em análises excelentes, descrever um pouco da magia de 'Caravanas'. Só posso dizer: "Volta logo Chico, eu preciso ser feliz de novo".

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve passagens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

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