Do not disturb

      Me lembro que, lá pelo final da década de 70, quem ia aos EUA trazia aquelas plaquinhas para colocar na porta do quarto, que …

      Me lembro que, lá pelo final da década de 70, quem ia aos EUA trazia aquelas plaquinhas para colocar na porta do quarto, que ainda não existiam por aqui. Pois agora, novamente os americanos querem ditar tendência. O governo daquele país criou um mecanismo de bloqueio às ações de telemarketing, que por lá representam números astronômicos: 108 milhões de ligações/dia(isto mesmo, 108 milhões/dia!); o telemarketing representa 38% das ações de marketing direto norte-americanas e o resultado são vendas de US$ 700 bilhões/ano. Mas o governo, atendendo insistentes apelos dos consumidores, resolveu mudar a brincadeira.
      E, para se ter uma idéia da importância que o governo está dando ao fato, o lançamento será feito na Casa Branca, pelo próprio estrábico presidente Bush.
      A iniciativa consiste na criação de uma lista, chamada de "do not call". Os cidadãos americanos que se cadastrarem nesta lista(o que pode ser feito via internet( www.donotcall.gov) ou telefone, não poderão ser acessado por empresas via telemarketing, sob pena de multa de US$ 11 mil dólares. Notícia do site Blue Bus( www.bluebus.com.br) informa que, desde a sexta-feira quando o programa foi lançado(27/06), até o dia 01/07, nada menos que 10 milhões de telefones já estavam cadastrados.
      Pausa para reflexão: o que significa tudo isto? Significa que nós, executivos, profissionais de marketing, homens de comunicação e propaganda, estamos diante de um problema. Estamos nos tornando incômodas presenças nas vidas das pessoas. Se 370 mil americanos se mobilizaram para não serem incomodados com ofertas de coisas que não querem, isto é um alerta. Deste alerta, duas conclusões são possíveis.
      A primeira é que efetivamente telemarketing é uma ferramenta invasiva, que pode pegar o consumidor em um momento em que ele absolutamente esteja interessado ou querendo ouvir falar de determinado produto ou marca. Mas, apesar de sua eficiência, conforme demonstram os números de vendas, ele está sendo visto como inconveniente, o que pode ser gol contra para a marca da empresa. Quer coisa mais chata do que ser considerado chato?
      A segunda conclusão é que as ofertas devem estar sendo direcionadas a quem não tem interesse nelas, como TV 29 para deficientes visuais, produtos para quem já morreu, etc. Isto pode ser corrigido através de estratégias de CRM sólidas e bem gerenciadas, que permitam às empresas conhecer melhor os hábitos, preferências, desejos e necessidades de seus clientes, oferecendo-lhes somente aquilo que eles, ao menos potencialmente, tenham interesse.
      Porém, a principal conclusão deste fato é que os consumidores estão de saco cheio de serem acessados. Não agüentam mais tanta oferta. E, pior ainda, estão se revoltando contra isto. O consumidor brasileiro não é o americano em termos de organização, consciência e protesto. Mas o consumidor brasileiro mudou muito e ficou muitíssimo mais consciente de seus direitos nos últimos anos.
      O principal, porém, não está na questão "direitos", mas no que idéia fica na cabeça do consumidor sobre as empresas, de como elas o estão tratando. Será que se elas(empresas) não respeitam a sua privacidade vão respeita-lo em outros aspectos? Precisamos refletir.
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