"Herr Meer"
Por José Antônio Moraes de Oliveira
" Eu apenas leio a partitura,
quem faz a música é Deus".
J.S.Bach.
Muitos grandes nomes da História tiveram seu talento reconhecido apenas após a morte. A louvação tardia pesou sobre pintores, como Vincent Van Gogh, Paul Gauguin e sobre músicos como Johann Sebastian Bach, Ludwig van Beethoven e Wolfgang Amadeus Mozart. Um crítico de música escreveu que o mundo não estava preparado para reconhecer a genialidade daqueles homens. O caso de J.S. Bach é emblemático - reconhecido quase 100 anos depois de sua morte, seu nome agora batiza cidades na Alemanha, uma cratera no planeta Mercúrio e uma estrela nova da Via Lactea.
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Os historiadores dizem que Bach foi para a música o que William Shakespeare foi para o teatro e Isaac Newton, para a ciência. Embora consagrado como um gigante da música universal não é simples decifrar o enigma J.S. Bach. Ele escreveu cerca de mil composições musicais apenas no catálogo BWV, mas não deixou uma única linha sobre si mesmo. Anotações de seu filho falam de uma personagem forte, que enfrentou divergências sérias com os governantes de Leipzig, mas manteve sua fé religiosa e acima de tudo, total dedicação à música.
Consultado sobre que mensagem devia ser instalada na sonda Voyager para representar a Humanidade no espaço sideral, o cientista Lewis Thomas da NASA respondeu:
"- A obra completa de Johann Sebastian Bach."
Durante o século XVIII, era comum músicos e artistas dependerem de favores de reis, príncipes ou dignatários religiosos para ganhar seu sustento. No caso de J.S. Bach, o apoio vinha de Frederico II da Prússia e do príncipe Leopoldo de Anhalt-Köthen. Mas há um paradoxo - nem sempre os monarcas patrocinadores apreciavam música. Um deles, o príncipe Christian Ludwig, que encomendou a Bach os magníficos Concertos de Bradenburg, nunca os ouviu.
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O crítico inglês William Apthorp escreveu que as partituras de Bach provocavam em muitos, o receio que ofuscariam para sempre a obra dos grandes compositores que o antecederam. E Richard Wagner resumiu assim a admiração por sua música religiosa:
" Descreve um mundo anterior ao nascimento do Homem".
E para Johannes Brahms:
"Se a música de Bach se perdesse, eu não teria mais razões para viver"
Mas foi o grande Ludwig van Beethoven que exprimiu, em uma única frase, a monumentalidade de JSB:
"Seu nome não deveria ser Bach (Riacho), mas sim Herr Meer (Senhor Mar)".
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