30 anos de uma obra perfeita

Por Márcia Martins

Desde que fui convidada, em junho de 2005 pelo então editor do portal na época, o querido Vieira da Cunha, para ter uma coluna fixa semanal no Coletiva, com assuntos livres, mais de uma vez escrevi sobre algumas travessuras da minha filha Gabriela e do meu amor incondicional materno. Nem sempre ela gostava de se ver retratada nos meus textos, mas considerava privilégio nato de mãe coruja. Até que a guria foi crescendo, adolescendo e se tornou uma adulta mega responsável. E as sapequices diminuíram ou sumiram. Mas o meu amor do tamanho do mundo pela Gabriela permanece superlativo.

Como já referi em outras colunas, sigo colaboradora do portal, enquanto a xará Márcia e o Iraguassu entenderem que devo permanecer e que posso prosseguir com liberdade para escrever. Então, abusando de tal prerrogativa, na coluna que será publicada nesta quinta-feira, 5 de dezembro, vou mais uma vez declarar meu amor pela minha filha, que faz aniversário na sexta-feira, 6 de dezembro. É, sem dúvida, a comemoração de 30 anos de uma obra perfeita. Ela até irá odiar essa minha ousadia, mas mãe pode tudo.

Gabriela é a filha que eu sempre sonhei ter. Mesmo antes da confirmação de que eu estava gerando uma menina, eu sabia (não me perguntem como) que ali no meu ventre se acomodava um ser do sexo feminino. E que viria a se tornar uma pessoa de quem eu sempre iria me orgulhar, uma grande amiga minha e de extrema fidelidade com suas amizades, uma mulher com consciência de que é preciso estar atenta e forte, focada na busca de justiça social e um mundo sem nenhum tipo de preconceito. Uma adulta responsável e engajada nas lutas essenciais para a construção de uma sociedade melhor.

Naquela noite de calor insuportável de 6 de dezembro de 1994, às 19h29min, no Hospital Mãe de Deus, chegou Gabriela para revolucionar a minha vida, dar um novo sentido à minha existência, escrever uma nova história na minha rotina, que passou a ser dividida entre AG (Antes de Gabriela) e DG (Depois de Gabriela). Porque com o seu nascimento, eu adquiri um jeito diferente de ver as emoções, de compreender as limitações das pessoas, de entender a capacidade transformadora do amor. A fase DG é sem a menor sombra de dúvida melhor etapa de todos os meus dias e noites.

Eu tive o enorme privilégio de ser escolhida para ser mãe de uma pessoa muito, mas muito especial mesmo. Que foi parceira em momentos complicados, que me estimulou a ousar em situações indecisas, que apertou com força a minha mão às vezes em que enfrentei encrencas de saúde, que me acompanhou em shows da Maria Rita, incentivadora de maratonar séries no Netflix e professora aplicada nas disciplinas de direitos humanos, gênero, diversidade, igualdade e justiça social.

Ela tem um jeito peculiar de causar alvoroço nos espaços que ocupa, uma determinação ímpar em escrever seu destino, com as cores que lhe tornam mais feliz, uma facilidade incrível de se comunicar, um gargalhar contagiante que ecoa até nos ambientes mais barulhentos e uma persistência indescritível de traçar seus caminhos e, mais do que tudo, persistir e insistir nos seus sonhos. Gabriela, a minha Bibi, é uma vida que pulsa, oxigena, mescla e cativa todos, todas e todes que lhe conhecem. É a ressignificação da palavra amor.

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve passagens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

Comments