A arte de fazer pesquisa

Por Elis Radmann

Fico observando a infinita disponibilidade de informações que a internet nos fornece e me vem à cabeça o dito popular, "em terra de cego, quem tem olho é rei". Essa máxima foi pensada para representar o papel da sabedoria no meio da ignorância e, na atualidade, pode ser ressignificada pela capacidade de filtrar, saber o QUE e COMO pesquisar, para ONDE olhar ou QUAL MÉTRICA seguir.

Esta semana, o IPO - Instituto Pesquisas de Opinião, que coordeno, faz 27 anos e revivendo mentalmente a sua linha histórica, fiquei refletindo sobre a arte de fazer pesquisa. 

No caso do IPO, falo de pesquisa de opinião e, por consequência, todos os tipos de pesquisa que se referem ao comportamento social, que estão associados à declaração de um indivíduo (como pesquisas de mercado, de satisfação, de diagnóstico de gestão ou até de cenário eleitoral). 

Temos que ter a clareza de que a opinião move as pessoas e as pessoas movem o mundo. 

Essencialmente, fazer pesquisa é TER e SEGUIR um método. Um descritivo. É fazer ciência! Mas, como se faz isso em uma era em que as crianças aprendem e acreditam que fazer pesquisa é "dar um Google"? Em uma época em que a ciência é desqualificada e atacada?

Defender a ciência é reconhecer a caminhada que a humanidade realizou, é entender o acúmulo de saberes e as várias intervenções históricas do conhecimento científico e também saber compreender as diferenças entre as visões de mundo, especialmente as icônicas, como o iluminismo e o renascentismo.

Então, o primeiro passo é conhecer e reconhecer os métodos científicos que se consolidaram na modernidade e saber como adaptá-los ao momento disruptivo em que vivemos. "Ciência é aquilo que pode ser replicado por outrem!" Temos uma pesquisa científica quando outra pessoa pode pegar o descritivo, replicar o mesmo estudo e ter dados similares dentro do grau de confiança estabelecido. 

Agora, o grande imbróglio da arte de fazer pesquisa está no público-alvo. Para se saber a assertividade do método é necessário ter a clareza de quem será ouvido para desenhar como este grupo será representado e como serão os controles amostrais. Uma tarefa ingrata na atualidade, tendo em vista que as pessoas estão cada vez mais conectadas em vários canais, mais individualistas e sestrosas em dar a sua opinião em função das pesquisas falsas, utilizadas como fachada para realização de golpes ou captura de dados.

Além do método e do público-alvo é necessária a tese de investigação, os objetivos. TER CLAREZA DO QUE SE QUER DESCOBRIR. Sempre que vamos estudar um assunto temos hipóteses, que são suposições ou crenças que temos sobre o tema que vamos investigar. 

O mais instigante em uma pesquisa é conseguir responder se as hipóteses se confirmam ou se são refutadas. É entender os mecanismos, os valores ou experiências que estão por trás de determinada opinião e se aquela visão de mundo faz parte de uma crença ou é apenas a reprise de uma narrativa publicitária ou política.

A ciência é uma ferramenta que nos possibilita o autoconhecimento, o conhecimento de nossos julgamentos e preferências e, principalmente, o entendimento sobre todos os sistemas que estão no nosso entorno. 

Autor
Elis Radmann é cientista social e política. Fundou o IPO - Instituto Pesquisas de Opinião em 1996 e tem a ciência como vocação e formação. Socióloga (MTB 721), obteve o Bacharel em Ciências Sociais na Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e tem especialização em Ciência Política pela mesma instituição. Mestre em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Elis é conselheira da Associação Brasileira de Pesquisadores de Mercado, Opinião e Mídia (ASBPM) e Conselheira de Desburocratização e Empreendedorismo no Governo do Rio Grande do Sul. Coordenou a execução da pesquisa EPICOVID-19 no Estado. Tem coluna publicada semanalmente em vários portais de notícias e jornais do RS. E-mail para contato: [email protected]

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