A assessoria vergonhosa

Existe algo de muito melancólico numa profissão como o jornalismo quando a gente vê alguém que se diz jornalista usando a sua condição de …

Existe algo de muito melancólico numa profissão como o jornalismo quando a gente vê alguém que se diz jornalista usando a sua condição de mulher de um político envolvido até o último fio de cabelo em denúncia de corrupção para assinar um texto ao estilo sertanojo em defesa do próprio maridão. Foi o que fez a mulher de Carlos Lupi, o mentiroso que Dilma teima em manter no cargo para não dar o braço a torcer (como se pudesse) à revista Veja que vem desnudando, uma a uma, as safadezas do poder que se grudou como craca no Planalto.
Ângela Rocha, que se diz especialista em políticas públicas, seja lá o que realmente isso for, cujo trabalho como jornalista desconheço (tentei encontrar algo na internet, mas nem a Tribuna da Imprensa, onde ela diz ter estagiado, apresenta qualquer coisa que ela tenha produzido), num tocante exemplo de fidelidade matrimonial, fez um looooooooooooooongo texto defendendo o marido. E não poupou a apelação de citar os filhos e neto para seu mimimi.  Numa patética versão de Anne Sinclair, mulher de Dominique Strauss-Kahn, que bancou o ex-diretor do FMI diante de todas suas baixarias reveladas, a colega Ângela desce ladeira abaixo cometendo bobagens como chamar o marido indiretamente de cachorro pequeno ao dizer "o Lupi não é vítima de nada. (?) Ele sabe que é simplesmente o alvo menor que precisa ser abatido para que seja atingido um alvo maior. É briga de cachorro grande".
Mais adiante, magoada com amigos que provavelmente se afastaram do casal, comete mais uma burrada: "A coisa é tão bem montada que até a gente começa a duvidar de nós mesmos". Ao estilo atire-no-mensageiro, a esposa fiel afirma que "Nossa imprensa julga, condena e manda para o pelotão de fuzilamento" e quer porque quer convencer quem a lê que o cônjuge, coitado, é um estourado do tipo ingênuo, vítima de pergunta capciosa da imprensa malvada. Cega de paixão, enxerga as fotos de Lupi no avião do dono da ONG (suspeita de falcatrua também) como armação. E por aí vai o constrangedor depoimento de dona Ângela.
Pior que isso, no entanto, e ainda mais vergonhoso para a profissão de jornalista e para o cargo de assessor de imprensa, é a atitude de outro desconhecido bem empregado que se assina Max Monjardim cuja única qualidade anunciada pelo eternamente rancoroso Paulo Henrique Amorim é ser filho de um assessor de imprensa do finado Leonel Brizola chamado Oswaldo Maneschi (ou Osvaldo Maneschy, aparecem as duas grafias na internet) e que é o atual secretário nacional de comunicação do PDT. Pois Max, o afoito, enviou não só o texto da mulher do chefe para o blog de PAH como junto postou um "bilhetinho" em que diz "Mas a nossa avaliação é que guerra é guerra, e como tal, precisamos todos utilizar as ferramentas (e porque não armas) que temos." E  prossegue o garoto afoito,  embalado por sua amizade com o criador do PIG:  "Acordos políticos e funções nomeadas, recuperam-se. Mas a vida e a família, como diria o velho Maneschão, combativo companheiro, o buraco é mais embaixo." Maneschão, esclareça-se, é seu pápis e, pelo que se vê, ídolo!
Só queria saber uma coisinha: não é antiético um assessor de instituição pública distribuir material "jornalístico" produzido para a instituição para um partido político, no caso, o PDT, do qual o pai é empregado? Ou agora tudo está tão misturado que Max, o menino, trabalha em pacote recebendo do Ministério (e do nosso bolso) para atender também o PDT? Aliás, o coleguinha herdeiro das relações paternas também é o responsável pela revista do Ministério, que exalta os feitos de Lupi e que expõe, em seu editorial os nomes de Dilma e outros políticos no poder. No meu tempo, isso era propaganda paga com grana da população e era ilegal. Mudou?

Autor

Jornalista formada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Maristela Bairros já atuou como redatora, repórter, editora e crítica de teatro nos principais diários de Porto Alegre, colaboradora de revistas do Centro do País e foi produtora e apresentadora nas rádios Gaúcha, Guaíba AM, Guaíba FM e Rádio da Universidade, assessora de imprensa da Secretaria de Estado da Cultura e da Fundação Cultural Piratini. É autora de dois livros: Paris para Quem Não Fala Francês e Chutando o Balde, o Livro dos Desaforos, ambos editados pela Artes & Ofícios.

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