A era da informação também é a era da intolerância

Por Elis Radmann

Vivemos um momento histórico em que muitas pessoas querem ser ouvidas, mas poucas querem ouvir. E precisamos de paciência para observar e compreender os motivos da impaciência da sociedade.

A vida está cada vez mais agitada. Corremos de um lado para o outro, com muitos afazeres: estudo, trabalho, compromissos pessoais e familiares, lazer, cuidados com a saúde, etc. Vivemos na era da informação. Estamos sempre conectados ao mundo digital e quanto mais conteúdo temos à nossa disposição, maior é a falta de paciência e a tolerância com aquilo que não faz parte de nossa cultura, que não pertence a nossa "bolha digital" ou que não entendemos.

Para compreendermos o crescimento da intolerância, temos que prestar atenção na ampliação do individualismo e na diminuição do sentimento de comunidade e de coletividade. Como cada um se sente "dono" da sua timeline, em um contexto cada vez mais tecnológico, acredita que pode dizer o que bem quiser, na hora que bem quiser. 

Há um sentimento de empoderamento individual que propicia o que se chama de "individuação", trazendo um "falso" sentimento de ampliação da independência e estimulando o egoísmo. Nessa lógica, uma pessoa adulta pode morar e depender financeiramente dos seus pais e defender que é totalmente independente e que não tem nenhum sentimento de gratidão, pois considera que os pais não fazem nada mais do que sua obrigação.

E não podemos esquecer que é nas redes sociais que as bolhas digitais alimentam o radicalismo, estimulando a impaciência e a falta de respeito das pessoas. É como se o mundo virtual criasse uma falsa impressão do que é certo e do que é errado, do que pode e do que não pode. E essa falta de paciência e de respeito alimenta a cultura da intolerância que está cada vez mais presente nos mais diferentes campos da vida social, seja no mundo real ou no virtual.

Pesquisa realizada pelo IPO - Instituto Pesquisas de Opinião identificou que 84,6% dos gaúchos têm uma religião de referência, estão alinhados a alguma premissa espiritual e que a grande maioria afirma que as escolas devem respeitar as diferentes crenças religiosas de seus alunos. 

O Brasil é um país continental com uma grande variedade de religiões, com identidades culturais diversas, onde há pelo menos três denúncias de intolerância religiosa por dia. Esse tipo de ataque pode ser aos templos e também aos fiéis e ter conotação preconceituosa. Há poucos anos, a maior parte dos ataques ocorriam contra pessoas de religiões de matrizes africanas (como candomblé e umbanda) e atualmente se mostram também contra católicos e evangélicos.

Assim como a intolerância política ou ideológica, a intolerância religiosa é a falta de habilidade ou de vontade em reconhecer e respeitar práticas e crenças religiosas de outras pessoas, incluindo a possibilidade de uma pessoa não ter nenhuma crença. Facilmente, a intolerância religiosa chega ao preconceito religioso, que é classificado pela opinião desfavorável ou discriminatória.

O respeito, seja no mundo real ou no virtual, é o melhor remédio contra o preconceito e a intolerância. As pessoas são diferentes e têm crenças e opiniões distintas sobre o mundo e é isso que as torna humanas. 

Autor
Elis Radmann é cientista social e política. Fundou o IPO - Instituto Pesquisas de Opinião em 1996 e tem a ciência como vocação e formação. Socióloga (MTB 721), obteve o Bacharel em Ciências Sociais na Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e tem especialização em Ciência Política pela mesma instituição. Mestre em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Elis é conselheira da Associação Brasileira de Pesquisadores de Mercado, Opinião e Mídia (ASBPM) e Conselheira de Desburocratização e Empreendedorismo no Governo do Rio Grande do Sul. Coordenou a execução da pesquisa EPICOVID-19 no Estado. Tem coluna publicada semanalmente em vários portais de notícias e jornais do RS. E-mail para contato: [email protected]

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