"Se nós vemos coisas erradas ou crueldades,

as quais temos o poder de evitar e nada fazemos,

 nós somos coniventes."

Anna Sewell

No mês passado, fez três anos que eu parei de comer carne. Eu estava assistindo a uma série e a Gi, minha companheira na época, mandou-me um vídeo de uma cabritinha desesperada, berrando, enquanto um homem arrastava sua mãe para a morte. Foi um soco na minha cara. Ali eu pensei, eu não preciso MATAR para sobreviver, eu não preciso do sofrimento de nenhum ser vivo para me alimentar. NUNCA mais coloquei carne na boca, foi um processo mais fácil do que eu imaginei, o coração falou mais alto que a gula.

Dezoito meses depois deixei de comer produtos animais, leite e ovos, foi mais difícil, mas não impossível, bastou entender um pouco como funcionava a indústria alimentícia para ver a usina de dor que ela se transformara e que eu era um dos financiadores dessa máquina de tortura com compras diárias.

Meus amigos e conhecidos estranharam no início, alguns, tenho certeza, imaginavam que aquilo era apenas mais uma moda que eu estava inventando, mas não era. Esse foi o passo mais importante que dei na vida para me encontrar comigo mesmo. Os animais, já a algum tempo, passaram a ser a razão da minha existência nesse plano, literalmente. Neles encontro o amor e o conforto na hora da dor, o acolhimento na hora da ansiedade, o afeto nas horas calmas, a beleza nas horas felizes e a paz nos momentos de luz.

Eu me sinto um homem realizado, consigo me sentir útil em um mundo de tanta inutilidade, trabalho por uma causa que acredito, milito em uma luta que me traz sentido.

Eu sonho com um mundo onde o homem se dê conta que não é dono de tudo. Em nome do nosso prazer a gente asfixia cachorro para testar cigarro, a gente causa tumor em macaco para testar cosmético, a gente engorda pato até o fígado estourar e ele morrer para ter patê, escravizamos animais em jaulas e aquários para mostrar que eles existem, sacrificamos bichos, esquartejamos e comemoramos que comemos a melhor parte deles, muitas vezes com um prazer que beira a psicopatia. O ser humano condena espécies inteiras a morte e a escravidão apenas porquê acredita que tudo é seu.

Matamos o planeta todos os dias, torturamos animais e poluímos terra, água e ar em nome do futuro. E fazemos tudo isso com um sorriso no rosto, acreditando não ser nada demais, como se dispuséssemos de todas as vidas, como se elas não valessem tanto quanto a nossa própria.

 Agora tu deves estar achando o meu texto radical, alguns vão sorrir amarelo e tentar fazer de conta que não falo com eles, afinal estes possuem um cachorrinho de estimação que chamam de filho, enquanto continuam comendo o porquinho que esquartejaram com gosto e prazer. Toda vez que tu comes carne, ou algum outro produto de origem animal, tu escolhes matar. Matar pelo prazer de comer algo gostoso.

 A gente é o mau, podem acreditar.