No início de novembro tive o privilégio de participar de um evento extraordinário, o TEDxAmazônia. Foi de 2 a 5, em Manaus, concebido para que se desse atenção às vozes que lutam pela preservação da região e procurar disseminar o entendimento de que os povos que lá estão são muito capazes de cumprir este desafio sem constranger o desenvolvimento.  

Criada há 30 anos nos Estados Unidos, a ONG TED, sigla para Tecnologia, Entretenimento e Design, se propõe a estimular a propagação de ideias que mereçam ser compartilhadas. Pelo mundo a ideia se propaga através dos eventos denominados TEDx, bancados por entidades e organizações independentes. São originais por uma característica singular, a de que cada palestra não excede a duração de 18 minutos. No caso do TEDxAmazõnia, eram tantas as ideias e tantos os palestrantes, que esta duração acabou reduzida a 12 minutos - cada um deles, precioso por seus conteúdos ricos, vivos, inspiradores.

Quase 500 pessoas estavam lá para ouvir palestras sobre diferentes formas de sustentabilidade em um ambiente paradoxal: Manaus, localizada dentro da maior floresta tropical do mundo, estava sem ar puro para respirar, graças ao encontro desumano de uma seca devastadora, com milhares de queimadas em sua maior parte provocadas pela ação humana. E quase todas são fruto de atos ilegais que trazem um triplo prejuízo: interferem de modo negativo na biodiversidade, afetam a saúde da população em torno e dão sua indesejada contribuição para as alterações climáticas. 

Assim, não por acaso, boa parte dos mais de 40 palestrantes não teve como ignorar este momento. E eram muitas vozes realmente dignas de atenção. Entre elas estavam o indígena Busche Matis, gestor de políticas públicas; a antropóloga Ana Carla Bruno; a micóloga Noemia Kazue, uma especialista no estudo dos fungos e apaixonada ao demonstrar sua importância para nós, humanos; Narubia Werreria e Vanda Witoto, duas líderes indígenas respeitáveis; Dona Nice, uma admirável liderança em uma comunidade quebradora de côco babaçu; e a ministra Marina Silva, com seu recado sempre atual dedicado ao respeito ao meio ambiente.

Desfilaram pelo TEDx exemplos admiráveis de pessoas que dedicam a vida para tornar mais humana e integrada a convivência dos povos originários da Amazônia. Desde dedicação intensa contra as investidas da ganância de invasores até ações criativas que tornem a vida ali mais generosa e prazerosa. Um bom exemplo é o Linklado, aplicativo que possibilita se escrever em computadores e celulares em pelo menos 40 idiomas indígenas. Não é difícil imaginar a revolução que isso representa para os milhares habitantes da região que não se manifestam no português. A antropóloga Ana Bruno esclareceu: graças ao aplicativo, fica mais curto o caminho entre o resultado das pesquisas científicas do Inpa, o Instituto Nacional de Pesquisas Amazônicas, e os povos originários. 

O que aprendi nestes três dias na Amazônia excede a tudo que sabia das leituras e vivências. Foi o típico evento em que as pessoas que dele participam saem se sentindo melhores do que entraram. Todos voltam para casa mais ricos em conhecimento e empatia, inspirados e estimulados por pessoas realmente inspiradoras. Como registraram os organizadores, o TEDxAmazônia foi pensado para refletir a pluralidade e a beleza da região que acolhia o evento. Foi idealizado para unir vozes que se manifestam pela Amazônia e por quem a vive, e dar ressonância e importância a elas. Conseguiu.