A nossa melhor versão

Por Luan Pires

No livro "Em Busca de Sentido", Viktor E. Frankl faz uma reflexão sobre sua experiência como prisioneiro em campos de concentração nazistas e sobre os fundamentos da logoterapia, a abordagem psicoterapêutica que ele desenvolveu. A Logoterapia é baseada na ideia de que a busca de um propósito é a força motriz da vida humana. Em uma das frases mais famosas, defende que "quando não somos mais capazes de mudar uma situação, somos desafiados a mudar a nós mesmos". Mas, numa cultura que fomenta cada vez mais "ser quem se é", o quão fácil é aceitar que se deve mudar?

Existe esse pensamento de que mudar a si mesmo é perder uma parte da essência. Mas, para sobreviver, os humanos são obrigados a mudar quem são e muitas vezes nem percebem isso. Falo daquela pessoa excessivamente na defensiva, daquele que precisa agradar a todo mundo, do outro que aprendeu a não dar opinião para não ter que lidar com conflitos e de tantos outros. Humanos se apegam a certas características como se fossem partes de sua personalidade, quando apenas são reações ao mundo. Por isso, é comum ouvir "ele me conheceu assim", "esse é meu jeito" ou "não tenho mais idade para mudar". Mas, uma coisa é quem se é como pessoa com valores e crenças. Outra é quem alguém se torna para sobreviver ao caos da existência.

Cuidado quando for bater o pé e dizer para as pessoas que elas precisam aceitar você. Claro, elas devem aceitar suas ideias, jeito de ver o mundo, defeitos e até erros, se quiserem desfrutar da sua companhia. Mas, encarar a aceitação do outro como convite a estagnação pessoal é jogar a experiência de viver pelo ralo. Talvez, o impaciente nunca vá se tornar a pessoa mais paciente e o irritado não vai ser aquele que medita todo dia ao acordar. Mas, caminhar para a direção oposta dos seus defeitos, quando esses machucam a si mesmo e aos outros, não é perder quem se é. É achar a melhor versão de si mesmo. 

Todos nós devemos isso aos outros, mas, principalmente, a nós mesmos.

Autor
Luan Nascimento Pires é jornalista e pós-graduado em Comunicação Digital. Tem especialização em diversidade e inclusão, escrita criativa e antropologia digital, bem como em estratégia, estudos geracionais e comportamentos do consumidor. Trabalha com planejamento estratégico e pesquisa em Publicidade e Endomarketing, atuando com marcas como Unimed, Sicredi, Corsan, Coca-Cola, Auxiliadora Predial, Deezer, Feira do Livro, Museu do Festival de Cinema em Gramado, entre outras. Articulista e responsável pelo espaço de diversidade e inclusão na Coletiva.net, com projetos de grupos inclusivos em agências e ações afirmativas no mercado de Comunicação. E-mail para contato: [email protected]

Comments