A população não apoia o radicalismo político

Por Elis Radmann

Já diziam os antigos que "até chá demais faz mal" e "só louco é que tem ideia fixa". Como o radicalismo político, de direita ou de esquerda, é por essência um modo de agir inflexível e intransigente que apregoa soluções extremas para os problemas sociais, o mesmo não agrada a maior parte dos brasileiros.

Pesquisa realizada pelo Instituto DataFolha após os ataques de 08 de janeiro de 2023 confirmou que 93% da população brasileira se declararam contra os atos criminosos praticados na invasão das sedes do executivo, legislativo e judiciário federal. Favoráveis aos atos foram 3% da população e os demais se manifestaram indiferentes ou não souberam responder.

Este resultado indica que a radicalização política de grupos extremistas pró-bolsonarismo não tiveram o apoio político da opinião pública e nem das principais lideranças políticas de direita. O próprio partido de Bolsonaro se dividiu sobre o tema, entre os que se manifestaram contrários aos ataques e aqueles que relativizaram e as lideranças que participaram.

A grande maioria dos entrevistados, 87%, afirmou que os envolvidos nos atos de vandalismo e depredação deveriam ser presos, sendo que 46% acreditam que todos os envolvidos deveriam ser presos, 15% sinalizou que a maioria deveria ser presa e outros 26% que pelo menos alguns devem ser presos. Apenas 9% dos entrevistados avaliam que ninguém deveria ser detido.

A "negligência" ou "descuido" da segurança pública foi outro ponto polêmico que foi avaliado pela pesquisa. O teste indicou que 63% dos brasileiros acreditam que as forças de segurança do Distrito Federal fizeram menos do que podiam para conter a destruição das sedes dos Três Poderes. Este julgamento incidiu também na avaliação da atuação do Governador afastado do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, que teve a sua atuação reprovada por 61% dos brasileiros.

A condenação, que foi praticamente unânime, dos atos criminosos praticados em Brasília, não teve a mesma intensidade quando se testou a percepção da responsabilidade do ex-Presidente. Para 55%, Bolsonaro pode ser considerado como responsável pela ação criminosa de seus apoiadores no domingo, dia 8. Desses, 38% acreditam que ele teve muita responsabilidade e 17% acreditam que ele teve pouca responsabilidade. Para 39%, Bolsonaro não teve responsabilidade nos atos criminosos.

A população se divide quando a avaliação é sobre a postura e a condução do Presidente Lula durante a gestão da crise: 39% acreditam que o Presidente cumpriu o seu papel na gestão da crise, 37% avaliam que ele cumpriu em parte e 15% afirmam que ele fez mais do que precisava.

A maioria dos brasileiros também acredita que, com as medidas adotadas, Lula irá conseguir conter possíveis novos atos semelhantes. Essa é a opinião de 64% dos participantes da pesquisa, enquanto 29% acham que ele não conseguirá.

Os resultados da pesquisa expressam a discordância da grande maioria da sociedade com as ações violentas, independente da origem política. Democracia se faz com diálogo, mesmo diante da divergência de ideias.

Autor
Elis Radmann é cientista social e política. Fundou o IPO - Instituto Pesquisas de Opinião em 1996 e tem a ciência como vocação e formação. Socióloga (MTB 721), obteve o Bacharel em Ciências Sociais na Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e tem especialização em Ciência Política pela mesma instituição. Mestre em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Elis é conselheira da Associação Brasileira de Pesquisadores de Mercado, Opinião e Mídia (ASBPM) e Conselheira de Desburocratização e Empreendedorismo no Governo do Rio Grande do Sul. Coordenou a execução da pesquisa EPICOVID-19 no Estado. Tem coluna publicada semanalmente em vários portais de notícias e jornais do RS. E-mail para contato: [email protected]

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