A tecnologia anda na frente da sociedade

Por Elis Radmann

Estamos constantemente conhecendo novas tecnologias. Basta observar o seu celular para perceber a quantidade de aplicativos disponíveis e há aplicativo para praticamente tudo. Existem apps voltados para entretenimento, como jogos e músicas, além de aplicativos para compras online em qualquer parte do mundo, para pedir comida ou bebida, chamar um carro ou realizar transações bancárias. Sem contar os diversos aplicativos do governo, como o GOV.br, Meu INSS, entre outros, que facilitam o acesso a serviços públicos diretamente na palma da mão.

Diante dessa realidade, é possível afirmar que a tecnologia está andando na frente da sociedade. A inovação avança em ritmo acelerado, enquanto grande parte da população ainda tenta entender como lidar com tantas mudanças. A cada dia surgem novas ferramentas, plataformas e soluções digitais, mas nem todos estão preparados para usá-las de forma consciente, segura e eficiente. E nem estou analisando o fenômeno da inteligência artificial que irá impactar a nossa vida e redesenhar a forma como pesquisamos e trabalhamos.

Essa corrida tecnológica tem revelado a falta de maturidade digital de boa parte da população. Muitos usuários não compreendem os riscos envolvidos no uso de aplicativos, como o compartilhamento excessivo de dados, a exposição à desinformação ou a dependência exagerada de serviços digitais. Há quem use a tecnologia sem refletir sobre suas implicações, apenas seguindo tendências ou buscando praticidade imediata. Por outro lado, outros sequer têm acesso ou conhecimento básico para acompanhar essa transformação, o que amplia desigualdades e cria barreiras invisíveis entre os que dominam o mundo digital e os que ficam à margem dele.

Diante disso, é necessário fazer uma pausa e refletir: a tecnologia está realmente a serviço das pessoas ou são as pessoas que estão correndo atrás da tecnologia? Quando um aplicativo dita como devemos nos comunicar, consumir ou nos relacionar, será que ainda estamos no controle? Quando a ansiedade por acompanhar o "último lançamento" supera a compreensão do seu real impacto, será que estamos usando a tecnologia ou sendo usados por ela?

A resposta não é simples, mas o questionamento é essencial. A tecnologia tem um enorme potencial de transformação positiva, pode aproximar pessoas, facilitar o acesso à informação, otimizar serviços e ampliar oportunidades. Mas para que isso aconteça de forma equilibrada, é preciso desenvolver uma consciência digital coletiva. Precisamos aprender a usar a tecnologia com propósito, respeitando nossos limites e entendendo que ela deve servir à sociedade, e não o contrário.

Investir em educação é o primeiro passo para que a sociedade acompanhe esse ritmo acelerado. Só assim será possível ampliar a consciência sobre o mundo, alcançar maturidade digital e usar a tecnologia como aliada do dia a dia. Sem isso, corremos o risco de deixar que ela dite nossos valores e o compasso da vida.

Autor
Elis Radmann é cientista social e política. Fundou o IPO - Instituto Pesquisas de Opinião em 1996 e tem a ciência como vocação e formação. Socióloga (MTB 721), obteve o Bacharel em Ciências Sociais na Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e tem especialização em Ciência Política pela mesma instituição. Mestre em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Elis é conselheira da Associação Brasileira de Pesquisadores de Mercado, Opinião e Mídia (ASBPM) e Conselheira de Desburocratização e Empreendedorismo no Governo do Rio Grande do Sul. Coordenou a execução da pesquisa EPICOVID-19 no Estado. Tem coluna publicada semanalmente em vários portais de notícias e jornais do RS. E-mail para contato: [email protected]

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