Aconteceu em Havana

Por Marino Boeira

Desde que Fidel Castro, Ernesto Che Guevara e seus companheiros entraram em Havana naquele início de 1959, expulsando Fulgência Batista e sua gang de malfeitores, visitar Cuba era um dos meus projetos.
Pela sua condição de ilha, dificilmente Cuba poderia fazer parte de uma viagem que incluísse outros países e nas minhas férias de professor, nos meses de janeiro e fevereiro, eu sempre incluía mais de um país como forma de valorizar o investimento em passagens e hotéis.
Finalmente, há três anos, chegou a hora viajar para Havana e dessa vez na companhia de meu filho Conrado.
Cheguei a Havana com o firme propósito de ver confirmada na prática a maravilha de uma vida sobre um sistema socialista.
Obviamente que não foi o que encontrei, nem seria possível isso. Não é a toa que o país sofre há décadas um bloqueio criminoso dos Estados Unidos que lhe cria dificuldades em todas as áreas.
Uma situação que só se agravou com o desaparecimento da União Soviética, que lhe garantia petróleo a preços subsidiados e comprava seu açúcar a preços de mercado.
Como forma de subsistência econômica, o governo cubano decidiu apostar no turismo, aproveitando a beleza de suas praias no Caribe.
O resultado disso, são milhares de turistas circulando pelas suas cidades, principalmente Havana, o ponto de chegada e de partida dos visitantes, o que acabou provocando resultados indesejados.
Mesmo assim, Havana, a par de sua extraordinária beleza natural, oferece outros atrativos, começando pela hospitalidade do seu povo, alegre e musical e pela possibilidade de se reconhecer as conquistas da revolução.
A miséria não existe como nas ruas da maioria das cidades brasileiras. Os altos índices de qualidade na saúde pública e na educação são exaltados pelo testemunho das pessoas com as quais travamos contato.
Havana é também uma cidade com uma vida cultural intensa da qual pudemos viver dois exemplos: um concerto de música clássica numa praça pública em fim de tarde e a noite a apresentação do balé Don Quixote, no magnífico teatro Alícia Alonso a preços populares.
Para não dizer que tudo são flores, existem os pequenos infratores, quase todos eles, querendo lhes vender charutos - "autênticos Cohiba" -  por preços de ocasião.
Um deles foi tão convincente ao contar sua história, que incluía estudos na Universidade Federal de Minas Gerais, que quase acabei comprando sua muamba.
No último momento, recuei ao me dar conta que aquele sujeito tão loquaz que dominava, tanto o espanhol como o português, era o oposto da imagem que eu pretendia trazer para o Brasil, da visita a Cuba. 

Autor
Formado em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), foi jornalista nos veículos Última Hora, Revista Manchete, Jornal do Comércio e TV Piratini. Como publicitário, atuou nas agências Standard, Marca, Módulo, MPM e Símbolo. Acumula ainda experiência como professor universitário na área de Comunicação na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e na Universidade do Vale do Rio do Sinos (Unisinos). É autor dos livros 'Raul', 'Crime na Madrugada', 'De Quatro', 'Tudo que Você NÃO Deve Fazer para Ganhar Dinheiro na Propaganda', 'Tudo Começou em 1964', 'Brizola e Eu' e 'Aconteceu em...', que traz crônicas de viagens, publicadas originalmente em Coletiva.net. E-mail para contato: [email protected]

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