Aconteceu no Monte Saint Michel

Por Marino Boeira

Quando decidi visitar o Monte Saint Michel não imaginava encontrar por lá uma lembrança do revolucionário russo Leon Trotsky.

Como estava em Paris, decidi enfrentar os 400 quilômetros de estrada para ser mais um dos milhões de turistas que transformaram o local no segundo ponto turístico mais visitado da França.

Inicialmente foi um mosteiro, erguido em 966 por monges beneditinos, em torno do qual se formou o vilarejo medieval. O local também serviu de fortaleza militar e prisão antes de se tornar um monumento oficial da França, em 1874. Em 1979, restaurado, foi declarado patrimônio mundial da Unesco.

Basicamente é uma ilha rochosa na foz do Rio Couesnon, na região da Normandia, ligada a terra por uma espécie de península, que na maré cheia fica totalmente coberta.  Com o desenvolvimento do turismo, essa ligação por terra foi erguida a alguns metros do solo garantindo o acesso permanente ao vilarejo em torno do mosteiro.

Com a sua descoberta pelo turismo, suas estreitas vielas em torno do mosteiro foram tomadas por pequenos e acolhedores restaurantes que oferecem o prato típico da região - a omelete - e pousadas simples, mas caras e lojas de suvenires Quem como nós ganha em reais e precisa pagar em euros, um dia e uma noite no Monte Saint Michel são suficientes para armazenar lembranças para toda uma vida.

Então, nada de poupar. É preciso viver como um rei, pelo menos por um dia...e uma noite.

Para ter esse status é preciso se hospedar na pousada de La Mere Poulard, que existe desde o final do século XIX  e pedir a famosa omelete do Monte Saint Michel no seu restaurante.

A diária não fica por menos de mil reais, no período fora da estação (estive lá no inverno europeu) e uma simples omelete custa em torno de 150  reais e obviamente precisa ser acompanhada de um vinho nacional, de preferência um Bordeaux Então é melhor esquecer a conversão para o real e pensar apenas em euros que os valores não parecerão ser assim tão dramáticos.

Falei no início desse texto que encontrei por lá uma lembrança de Trotsky, Soou estranho encontrar o revolucionário comunista russo naquele tipo de hotel, mas na parede da escada que leva ao primeiro andar estava a prova: um retrato de Trotsky autografado, lembrando sua presença no La Mere Poulard.

Então, como bom comunista, pude relaxar aproveitando a beleza do local.

Autor
Formado em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), foi jornalista nos veículos Última Hora, Revista Manchete, Jornal do Comércio e TV Piratini. Como publicitário, atuou nas agências Standard, Marca, Módulo, MPM e Símbolo. Acumula ainda experiência como professor universitário na área de Comunicação na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e na Universidade do Vale do Rio do Sinos (Unisinos). É autor dos livros 'Raul', 'Crime na Madrugada', 'De Quatro', 'Tudo que Você NÃO Deve Fazer para Ganhar Dinheiro na Propaganda', 'Tudo Começou em 1964', 'Brizola e Eu' e 'Aconteceu em...', que traz crônicas de viagens, publicadas originalmente em Coletiva.net. E-mail para contato: [email protected]

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