Afinal, o que é liberdade de imprensa?

Por Anelise Zanoni

Impossível não escrever aqui sobre a formatura do curso de Jornalismo da Unisinos, ocorrida no último 7 de março e que se transformou na colação de grau mais falada dos últimos tempos devido ao discurso do paraninfo.

Quem acompanhou sabe que, após falar sobre a dificuldade de exercer a profissão nos tempos atuais,  o professor Felipe Boff precisou sair do teatro escoltado. O tom do discurso emocionado causou fortes reações em parte do público e mostrou que existe uma disparidade de pensamento entre aqueles que estavam se formando e seus convidados (muitos deles, pais!).

Felipe Boff falava sobre liberdade de imprensa. E falar de liberdade de imprensa é falar sobre direitos.

Por mais que tenha usado exemplos de como o governo atual cerceia o trabalho dos jornalistas, o que foi interpretado por algumas pessoas como militância, o discurso levantou uma bandeira pelo livre exercício da profissão de jornalista. Quando se fala sobre liberdade de imprensa, não está se discutindo qual governo é melhor, qual presidente é menos ou mais canalha.

Pedir para trabalhar com liberdade é permitir que o jornalista investigue, pergunte, mostre o que está ocorrendo no mundo sem interferências. É exercer a profissão de jornalista, uma das mais importantes numa época de fake news e de produtores de conteúdo duvidoso.

O jornalista sério e ético apresenta fatos reais, entrevista, investiga, mostra dados e oferece ao público a chance de compreender melhor sobre um assunto, de decidir se aquilo é bom ou ruim. As versões dos fatos podem incomodar você, mas aí você precisa tomar a decisão de como vai interpretá-las.

Liberdade de imprensa é um assunto que existe há décadas, porque o trabalho do jornalista incomoda, porque ele é capaz de mostrar o que está nos bastidores, o que nem a gente acredita que existe. Então, por que há pessoas que consideram que o jornalista não deve fazer seu trabalho? Porque o jornalismo denuncia, mostra as mazelas de onde vivemos e escancara as atitudes ilícitas de muitos políticos, empresários e pessoas de poder (e até aquelas sem poder também). 

Ter acesso à informação é um direito de todos e por isso precisamos dos jornalistas. 

Quando expressei minha solidariedade aos formandos e aos professores numa rede social, recebi comentários de que os jornalistas "criam um povo imaginário" e são narcisistas. Penso que, assim como existem médicos pilantras, professores desatualizados ou motoristas imprudentes, há jornalistas que não cumprem seu papel. E são exceção. Mas até para estes a liberdade de imprensa é necessária! 

Por fim, como dizia a camiseta dos formandos de Jornalismo da Unisinos, "não existe democracia sem jornalismo".

Autor
[email protected] Mestre e doutora em Comunicação Social, a jornalista é CEO da Way Content Agência da Comunicação, especializada em turismo, gastronomia e estilo de vida, e fundadora do projeto Travelterapia, que divulga destinos, experiências e cria projetos de branded content. Em 2019 foi finalista da categoria Imprensa do Prêmio Nacional de Turismo, promovido pelo Ministério do Turismo. Tem experiência como repórter e editora, e é freelancer de publicações como Viagem Estadão e Veja Comer & Beber. Trabalhou 12 anos na redação do jornal Zero Hora e produziu conteúdos para veículos como Sunday Independent, Hola!, Contigo!, Playboy, Veja, Globo.com e Terra. Também atuou por 10 anos como professora de universidades como Unisinos e ESPM, passando pelos cursos de Jornalismo, Relações Públicas e Produção Fonográfica. Atualmente pesquisa o papel da imprensa no desenvolvimento do turismo e já estudou em países como Irlanda, Espanha, Inglaterra e Estados Unidos.

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