Amor declarado e crescente pelos caninos

Por Márcia Martins

Depois que o Dalai, o Shih Tzu carinhoso, afetuoso, descansado e da paz, como seu próprio nome profetizava, partiu lá no dia 8 de novembro de 2017 me deixando completamente desolada, e eu jurar que não queria mais um cachorro em casa, fui fisgada em fevereiro do ano seguinte pelo cão de orelhas grandes e patas enormes que pulou no meu colo e da minha filha durante um trivial passeio dominical na Redenção. Pois, naquela manhã quente de 4 de fevereiro de 2018, Quincas Fernando entrou nas nossas vidas (minha e da filha Gabriela). 

Talvez para comprovar aquela teoria de que um cachorro nunca terá o mesmo comportamento que o outro. Dalai, por exemplo, não fazia a mínima questão de passear. Sempre na dele. Já o Quincas quase me fulmina com o olhar quando chove e não consigo leva-lo para uma volta na quadra. Ou para reforçar que não se ama com intensidades diferentes os nossos cãopanheiros. Quem tem amor pelos cachorros, sempre terá esse sentimento declarado e crescente. Não tem a ver com tamanho, raça, pelagem. É um amor não explicado.

Mas eu arrisco a dizer que Quincas Fernando chegou para reforçar que os cães sabem exatamente quem nutre alguma admiração por eles. Explico. Desde a semana passada envolvida com técnicos da Operadora Vivo porque a minha televisão perdia a conexão constantemente. No domingo, quando o técnico apontou no início do corredor do prédio que leva ao meu apartamento, avisou: "tenho medo e não gosto de cachorro". Coloquei a peiteira no Quincas e fiquei cuidando para que ele não se aproximasse do técnico. Mesmo assim, de vez em quando, Quincas ensaiava umas rosnadas.

Nesta quarta-feira pela manhã, como o problema com a Vivo persistia, nova visita de outro técnico. Desta vez, nem esperei ele falar. E, apesar do rapaz dizer que não tinha medo de cachorro - como imaginei que Quincas podia estar impaciente já que não havia saído para seu passeio matinal - resolvi botar a peiteira e permanecer ao lado do cão que descansava sossegadamente no sofá. Não deu a mínima importância para o técnico que não só não resolveu o problema, como piorou a situação.

Já na parte da tarde, um terceiro (na semana) técnico da Vivo esteve aqui para ver o que ocorria. Chegou bradando: "que cachorro bonito e simpático". Não foi preciso segurar, nem prender, nem cuidar do Quincas. Durante as mais de duas horas que ele ficou para arrumar o serviço da Vivo (ufa, parece que resolveu), Quincas Fernando foi extremamente comportado, calmo, sem latir ou nem mesmo uma simples rosnada. Uma ou duas vezes, desceu do sofá e caminhou ao redor do técnico pedindo carinho.

Por isso, cada vez mais compreendo um pensamento popular que rola nas redes sociais e diz: "não confio em pessoas que não gostam de cachorro, mas confio totalmente num cachorro quando ele não gosta de uma pessoa". Quincas Fernando é a melhor prova disso.

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve passagens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

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