Aniversário de geminiana em tempos de pandemia

Por Márcia Martins

Geminiana com ascendente em gêmeos e outras posições (sol e lua) também em gêmeos, sou uma pessoa que adora festejar e ser paparicada na data de mudança de idade. Na terça-feira, 9, comemorei meu aniversário em tempos de pandemia. E em função do coronavírus, tinha consciência de que a chegada aos 60 anos seria atípica e estava preparada para um dia calmo, sem agitação e sem festa. A verdade é que tentei durante o inferno astral - período de 30 dias antes da data de nascimento - que se caracteriza pela ausência de energias positivas e corpo e alma mais suscetíveis às más situações, acostumar-me às necessidades impostas pelo Covid-19. O que incluía que o aniversário seria sem bajulação, carinhos e poucas felicitações.

Nem sei se, apesar do treinamento, estava pronta para aceitar um aniversário tão diferente. Na segunda-feira, 8 de junho, um dia antes do aniversário, experimentei uma melancolia inoportuna, uma tristeza insistente, um desânimo preocupante e um tédio insuportável. Realmente com medo do que a terça-feira poderia me oferecer, fui dormir cedo e evitando pensar no amanhã que logo seria presente.

E, ao despertar um pouco antes das 10h no dia 9 de junho de 2020, logo vi que a data de aniversário seria totalmente diferente de todas as comemorações que eu já tivera. No whatsapp do grupo da família, uma surpresa animadora e que dava uma ideia de como seria o resto do dia. Organizado pela minha filha (que sabe exatamente como eu me sinto nestas datas), foi postado um vídeo simples com depoimentos do mano Nando e da mana Sílvia, da cunhada Flávia, dos dois afilhados (Rafa e Lucas) da filha Gabriela e da nora Laura e até alguns latidos do neto canino Quincas Fernando. Mais tarde, entrou uma chamada com os familiares da sobrinha Camila. Não cabia em mim de tanta emoção.

Em seguida, recebi um vídeo lindo, cheio de fotos minhas em diversas atividades, que foi magnificamente editado pela amiga Carla. Nele, mensagens carinhosas dos amigos Jorge e Milton, que seguidamente emprestam seus ombros para eu chorar minhas mágoas. E algumas amigas da turma da faculdade (Carla, Lessa, Silvana, Bibi, Liane Ana e Angélica) com quem ainda convivo nos dias atuais cantaram parabéns, emitiram declarações e me fizeram chorar muito ao ver o vídeo, que teve também a participação da filha Gabriela. Como a editora Carla também me conhece muito bem, a trilha sonora tinha fundo musical na voz de Elis Regina, Chico Buarque e Maria Rita.

Uma linda cesta com queijos, salames, salgadinhos e outros quitutes foi enviada pelas meninas e menino da Poemas à Flor da Pele, associação cultural da qual participo e que promove saraus, organiza antologias e eventos literários. Mesmo com o isolamento, que faço desde 16 de março, a filha Gabriela passou rapidinho aqui na minha casa, com os devidos cuidados recomendados pela OMS, para me jogar um beijo sem tirar a máscara e me dar um vinho de presente para me auxiliar a passar o tempo nestas noites longas de confinamento. Claro que eu queria muito apertar, afofar e acarinhar a filha, mas a simples possibilidade de olhá-la já foi um excelente presente de aniversário.

O restante do dia foi intercalado com telefonemas, mensagens nas redes sociais, chamadas de vídeo e até uma sala foi aberta por amigos (as) no facebook, com direito a "Parabéns à Você" e brindes e brindes em taças de vinho, cada um na sua morada, enviando abraços virtuais. Só tenho a agradecer familiares, amigos e amigas que acumulei nos locais onde trabalhei (jornais, assessorias privadas e governamentais), do colégio e da faculdade, da poesia, da militância política, do ativismo em organizações feministas e dos companheiros e companheiras da direção do sindicato, da equipe aqui do portal Coletiva.

Foi uma comemoração diferente. Com o que é permitido aos que estão cumprindo seu papel e seguindo à risca o isolamento. E eu sai inundada de tanto carinho, repleta de tanto afeto e alimentada com tanta generosidade. Obrigada. Vocês que me mimaram e me paparicaram tornaram o meu aniversário um evento inesquecível.

 

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve passagens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

Comentários