Apesar da voz rouca, não me calo!

Com este dia cristalino de semiprimavera que faz hoje, queria muito falar em natureza, belezas, alegrias. Mas não dá. Meus poucos e preciosos leitores …

Com este dia cristalino de semiprimavera que faz hoje, queria muito falar em natureza, belezas, alegrias. Mas não dá. Meus poucos e preciosos leitores precisam saber que a cirurgia de meu pai, que foi marcada para sexta-passada, conforme contei aqui, não foi feita.  A explicação vem a seguir, em mais uma carta para a Ouvidoria da Santa Casa de Misericórdia. E hoje completam-se 8 dias que enviei o mail. Só recebi a resposta de praxe , acusando a chegada do que mandei e falando em novo contato. De todo modo, é legal saber que a Amrigs, através de seu presidente, me contatou via mail para dizer que encaminhou esta mesma manifestação para seu conselho, dada a gravidade do que ocorreu.
Para Ouvidoria Complexo Hospitalar Santa Casa
A/C Dalva
CINCO HORAS NA SALA DE ESPERA E CIRURGIA CANCELADA!!!!!
Venho, mais uma vez, a esta Ouvidoria, reclamar deste Complexo Hospitalar em procedimento relativo a meu pai, WALDEMAR BAIRROS, paciente do Hospital Santa Rita e que teve recomendada, pelo médico Lauro da Fontoura Beltrão, uma orquesctomia que foi agendada para dia 9 de setembro de 2011, 15h30min.
Meu pai NÃO FOI OPERADO PORQUE A MÉDICA CIRURGIÃ NÃO SABIA NADA A RESPEITO DELE E SÓ QUIS SABER NA HORA EM QUE ELE ESTAVA NA MESA PARA SER OPERADO, momento em que ela perguntou a ele, um homem de 83 anos, com memória rasa vitimada por vários AVCs e pelo Alzheimer, se ele tomava alguma medicação. Como meu pai não soube lhe dizer os nomes dos remédios, ela o devolveu para a sala de espera onde ele já estava havia mais de TRÊS HORAS (chegamos lá às 12h30min, fomos para o bloco cirúrgico por volta de 13h30min) à espera de minhas informações. Só que eu estava na rua, porque uma funcionária do bloco havia me dito que a cirurgia dele ia demorar. Como vi que os boletins sobre estado dos operados são dados em horários determinados e que eu só teria acesso a este informe às 19h, resolvi me ausentar.  Ninguém me recomendou que eu ali ficasse! E, detalhe: da ficha de meu pai, constam o número de meu telefone celular bem como da casa dele. Detalhe da desorganização do bloco cirúrgico: o número de meu celular está na pulseira que ele tinha no pulso com o número de atendimento 151.018/2011.
Quando eu e minha filha retornamos ao bloco, por volta de 18h, e relatamos os nomes dos medicamentos para a enfermeira que nos atendeu, a cirurgiã mandou dizer que havia cancelado a operação e pediu o retorno do paciente à consulta para avaliação. Acontece que meu pai toma, diariamente, aspirina e sinvastatina, medicamentos que servem para "afinar" o sangue e evitar novos acidentes circulatórios. E o uso destes remédios, segundo a médica, precisa ser suspenso uma semana antes da cirurgia.
SÓ QUE NINGUÉM, nem o médico que recomendou a cirurgia nem os funcionários que procurei no setor de internação (no mesmo dia, há mais de mês) foram capazes, mesmo indagados sobre os procedimentos, de me esclarecer o que seria necessário. Apenas me disseram que meu pai deveria fazer um exame de sangue (que fez, esta semana) e estar três horas antes no local, para efetivar a baixa.
E eu achei, na minha boa-fé, que uma equipe de cirurgiões se reúne antes das operações com as devidas fichas e prontuários dos pacientes e analisa cada caso. Hoje, aprendi que não existe este cuidado!!!
Meu pai é paciente do chamado hospital do câncer faz anos, já esteve também internado no Hospital Santa Clara, por causa dos AVCs, e é "freguês de caderno' da emergência do SUS do mesmo Complexo Hospitalar da Santa Casa de Misericórdia. Como é que pode, me digam, aceitarem um paciente para cirurgia sem acessar seus dados, seu prontuário ANTES da cirurgia, com o respeito e o cuidado que este paciente merece?
E se meu pai dissesse para a médica, na mesa da operação, que não tomava remédio algum? E se ela confiasse nesta informação de um velho doente?
Olhem, com atenção, para todo este quadro e me digam se não tenho razão para estar indignada? A Santa Casa, tenho alertado constantemente, tem um sério problema de gestão! Bons médicos e boas equipes podem ser prejudicados por processos judiciais devido a estas falhas que terminam, acima de tudo, estourando no paciente, indefeso e vulnerável já por sua condição de doente que necessita de não só cuidados profissionais mas, acima de tudo, humanos.
Solicito, objetivamente, que levem ao Dr. Dante Sicca Filho este relato e, junto a ele, providenciem nova data para cirurgia, o mais breve possível, e que acessem o prontuário integral de meu pai - caso seus computadores não estejam em linha para dar a necessária visão global da saúde do paciente, eu tenho uma pasta completa que posso lhes ceder.
E solicito ainda que tenham, a partir de agora, por procedimento padrão, instruir seus funcionários, sejam eles médicos, enfermeiros ou atendentes de balcão, a darem TODAS AS INFORMAÇÕES NECESSÁRIAS PARA QUE SE TRANQUILIZEM PACIENTE E FAMILIARES, E SE EVITE UMA TRAGÉDIA.
Aguardo, assim, um contato dos senhores para resolver esta questão.
Atenciosamente
Maristela Bairros
Jornalista

Autor

Jornalista formada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Maristela Bairros já atuou como redatora, repórter, editora e crítica de teatro nos principais diários de Porto Alegre, colaboradora de revistas do Centro do País e foi produtora e apresentadora nas rádios Gaúcha, Guaíba AM, Guaíba FM e Rádio da Universidade, assessora de imprensa da Secretaria de Estado da Cultura e da Fundação Cultural Piratini. É autora de dois livros: Paris para Quem Não Fala Francês e Chutando o Balde, o Livro dos Desaforos, ambos editados pela Artes & Ofícios.

Comentários