As mulheres fazem muito e pensam que fazem pouco

Por Elis Radmann

O mês de março é marcado pelo Dia Internacional da Mulher. Parece contraditório haver um Dia Internacional da Mulher, tendo em vista que as mulheres estão conquistando seus espaços.

Quando nos perguntamos porque não há um dia internacional dos homens, temos que voltar o nosso olhar para o papel da mulher na história da humanidade e no momento conjuntural em que o Dia Internacional da Mulher foi criado. Isso ocorreu há mais de um século, como marco de conscientização pela busca de direitos básicos, tais como: melhores condições de trabalho, de salário e direito ao voto. 

Nos relatos históricos, há registros de que o estopim para o movimento de resistência e de luta data de um incêndio em 1911 ocorrido na cidade de Nova York, que tirou a vida de uma centena de mulheres que trabalhavam em condições precárias. A história nos mostra que muitas vezes é preciso haver uma tragédia para ativar uma reação da sociedade, para que haja empatia e uma agenda de mobilização. E não vamos longe, um exemplo é a tragédia da Boate Kiss que gerou uma conscientização sobre a segurança nas casas de shows e uma lei com o mesmo nome da boate.

Um século parece muito tempo, mas quando se fala em transformações sociais é um espaço temporal pequeno. Nesse período de tempo conquistamos o direito ao voto, melhoramos as condições de trabalho e diminuímos a desigualdade salarial entre homens e mulheres. Ganhamos o respeito da sociedade, mas, mais importante do que isso, a admiração de nossos filhos.

Passamos a ocupar diferentes posições de trabalho. Podemos embarcar em um ônibus ou avião e nos depararmos com uma motorista ou uma comandante. E vamos encontrar engenheiras e mecânicas que cuidam destes meios de transporte. A mulher pode presidir um país como o Brasil, governar um estado ou ser prefeita de uma cidade. Pode ser uma militar e ocupar diferentes patentes na hierarquia militar, concorrendo às promoções em condições de igualdade com os homens.

Ufa! Chegamos em um momento histórico em que as mulheres podem fazer tudo o que quiserem, desde que se preparem muito bem para a tarefa. E podemos estimar que, daqui a algum tempo, já estaremos em "outro nível do jogo", alcançando a tal equidade de gênero. Por exemplo, pelo desenvolvimento do plano de carreira, estima-se que em 2027 teremos a primeira mulher como general do exército brasileiro.

Agora, o grande desafio é como fazemos tudo isso sem perder a nossa vocação maternal, sem abrir mão dos nossos grandes atributos femininos que fazem nossa essência. Estou falando da nossa capacidade de dedicação, companheirismo, de solidariedade, de fraternidade, de resiliência e, principalmente, de amor incondicional.

Temos que conquistar o mercado de trabalho e continuar sendo cidadãs, filhas, irmãs, colegas, amigas, namoradas, esposas e mães. Talvez tenhamos que revisar a intensidade de nossa entrega, a forma como nos doamos para cada um desses papéis sociais. É certo que vamos precisar de mais apoio e parceria dos homens e, para tanto, nos conscientizarmos de que precisamos nos reeducar e revisitar a educação que damos aos nossos filhos.

Teremos que gastar menos tempo nos debates da equidade de gênero e mais na reflexão sobre a parceria entre homens e mulheres.

Autor
Elis Radmann é cientista social e política. Fundou o IPO - Instituto Pesquisas de Opinião em 1996 e tem a ciência como vocação e formação. Socióloga (MTB 721), obteve o Bacharel em Ciências Sociais na Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e tem especialização em Ciência Política pela mesma instituição. Mestre em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Elis é conselheira da Associação Brasileira de Pesquisadores de Mercado, Opinião e Mídia (ASBPM) e Conselheira de Desburocratização e Empreendedorismo no Governo do Rio Grande do Sul. Coordenou a execução da pesquisa EPICOVID-19 no Estado. Tem coluna publicada semanalmente em vários portais de notícias e jornais do RS. E-mail para contato: [email protected]

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