As polêmicas dos hinos

Por Flávio Dutra

O que está havendo com nossos mais reverenciados hinos, que viralizam nas redes sociais não como celebrações, mas pelo envolvimento em falhas e controvérsias? O mais recente episódio envolveu a cantora Ludmilla que, aparentemente, esqueceu parte da letra do Hino Nacional na abertura do GP de Fórmula 1, em Interlagos. Ludmilla alega que a falha foi do sistema de som do autódromo, versão difícil de acreditar por se tratar de uma competição que reúne equipamentos de alta tecnologia como a Fórmula 1, sem contar que em eventos dessa grandeza tudo é testado antecipadamente. Não faltou quem visse na falha o descaso de uma ativista de esquerda com um símbolo pátrio. Problema técnico ou esquecimento, a pop star se recuperou no Prêmio Multishow, interpretando lindamente, à capela, o Hino Nacional e, dessa vez, na íntegra.

Se serve de consolo, a talentosa cantora não foi a primeira intérprete a ter problemas com o nosso hino. Em 2009, na Assembleia Legislativa de São Paulo, Vanusa errou a letra e culpou o remédio para a labirintite que tomou antes do evento. No mesmo ano, Fafá de Belém, musa musical do movimento Diretas Já, também errou a letra durante show em Mato Grosso. "Acontece muitas vezes", foi a justificativa. Em 2004, no Brazilian Day em Nova Iorque, Carlinhos Brown precisou pedir duas vezes ajuda do público para lembrar a letra do hino. Já o ex-presidente Jair Bolsonaro em uma cerimônia teria trocado "margens plácidas" por "margens flácidas", falha perdoável para quem não é cantor, mas imperdoável para um ex-militar e presidente da República. 

Mais precavida, Maria Bethânia levou uma cola com a letra do Hino ao cantar na posse do ministro Luís Roberto Barroso na presidência do STF. Outro previdente, Luan Santana contou com a ajuda de um discreto fone de ouvido para não errar a letra do hino na abertura da Fórmula Indy, só que a interpretação deixou a desejar, o que pode levar à conclusão de que o Hino Nacional e as competições automobilísticas são incompatíveis.

A controvérsia surgida em relação ao Hino Nacional diz respeito à semelhança de acordes da música composta por Francisco Manuel da Silva, em 1822, com  trecho da ópera Don Sanche, de Franz Liszt, apresentada pela primeira vez em 1818. Ao ouvir a reprodução da ópera quase me perfilei reverente, como se fosse o hino brasileiro, tal a semelhança entre as duas obras. 

Essa não foi a primeira revelação de que a música do Hino Nacional teve "inspiração" em outra composição. A música de Francisco Manuel da Silva seria parecida demais com trechos da obra do padre José Maurício Nunes Garcia, um dos maiores compositores clássicos do Brasil, com quem o autor do hino estudou e, provavelmente, buscou referências.

Já o Hino Riograndense padece de rejeição de parte da população. Representantes do chamado campo político da esquerda e do movimento negro se recusam a cantar o hino por causa da frase "Povo que não tem virtude acaba por ser escravo". Mas isso é assunto para outra coluna. 

Autor
Flávio Dutra, porto-alegrense desde 1950, é formado em Comunicação Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), com especialização em Jornalismo Empresarial e Comunicação Digital. Em mais de 40 anos de carreira, atuou nos principais jornais e veículos eletrônicos do Rio Grande do Sul e em campanhas políticas. Coordenou coberturas jornalísticas nacionais e internacionais, especialmente na área esportiva, da qual participou por mais de 25 anos. Presidiu a Fundação Cultural Piratini (TVE e FM Cultura), foi secretário de Comunicação do Governo do Estado e da Prefeitura de Porto Alegre, superintendente de Comunicação e Cultura da Assembleia Legislativa do RS e assessor no Senado. Autor dos livros 'Crônicas da Mesa ao Lado', 'A Maldição de Eros e outras histórias', 'Quando eu Fiz 69' e 'Agora Já Posso Revelar', integrou a coletânea 'DezMiolados' e 'Todos Por Um' e foi coautor com Indaiá Dillenburg de 'Dueto - a dois é sempre melhor', de 'Confraria 1523 - uma história de parceria e bom humor' e de 'G.E.Tupi - sonhos de guri e outras histórias de Petrópolis'. E-mail para contato: [email protected]

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